AS CHAVES PARA COMPREENDER A HERMENÊUTICA

Hermenêutica é uma palavra com origem grega e significa a arte ou técnica de interpretar e explicar um texto ou discurso. O seu sentido original estava relacionado com a Bíblia, sendo que neste caso consistia na compreensão das Escrituras, para compreender o sentido das palavras de Deus.

O fundamento da hermenêutica, portanto, é o fato de o sentido ser inesgotável, pois se ele fosse uno e fixo, não haveria motivo algum para se procurar, num conjunto imenso (e por que não dizer infinito) de opções, a melhor possibilidade – ou as melhores.

O GIRO TRANSCENDENTAL DE SCHLEIERMACHER 

Um dos temas centrais do pensamento do autor é aquele que evidencia a peculiaridade do projeto hermenêutico. Schleiermacher está ligado à subjetividade, à linguagem e à subjetividade. 

Também esse conceito pode somar-se ao exercício especulativo de apresentar a hermenêutica desse filósofo, relacionando-a com a discussão sobre os “indícios formais”.

Já afirmava no início que a hermenêutica é produto da modernidade, mas que, sobretudo, é também tendência ou movimento para sua superação. Ao mesmo tempo em que realiza o giro transcendental no mundo do sentido, coube-lhe a tarefa de pôr a transcendentalidade no contexto da linguagem. 

Ela surge acompanhando o “giro linguístico”, ou sendo por ele permitida. O modo peculiar de conceber o sujeito e a linguagem será determinante para a concepção e a realização do projeto hermenêutico de Schleiermacher.

Kant em contraponto a visão de Schleiermacher, fundou uma nova teoria do conhecimento, chamada idealismo transcendental, e a sua filosofia, como um todo, fundou o criticismo, corrente crítica do saber filosófico que visava, como queria Kant, a delimitar os limites do conhecimento humano.

A chamada Revolução Copernicana, iniciada por Kant, foi um processo de análise da Terra, que resultou na mudança do sistema geocêntrico pelo heliocêntrico, ou seja, acabou com a teoria de que a Terra seria o centro do Sistema Solar e validou a teoria de que o Sol seria o centro do universo, uma alegação do astrônomo Nicolau Copérnico.

Desta maneira, o saber humano passa pelo campo da racionalidade sem que seja atribuído ao imaterial a criação e o regimento do todo. 

DROYSEN E A COMPREENSÃO DA EXPLICAÇÃO NA HERMENÊUTICA 

Dilthey identifica a hermenêutica como fundadora das ciências do espírito. Por meio dela, o estudioso do espírito deve partir das manifestações sensíveis da vida, de suas objetivações e viver o processo de criação do mundo espiritual em seu processo histórico.

Explicação, como proposto por Dilthey, está associada ao campo das ciências naturais e compreensão ao campo das ciências humanas. Quando se valoriza a explicação como principal elemento do trabalho científico, a diferenciação entre os dois tipos de ciência se esvai.

A compreensão precede a explicação; neste sentido, ela abre previamente um certo espaço de experiência e instaura a diferença entre o mundo dos fatos e do mundo dos signos. Mas, abrindo o mundo do sentido, a compreensão abre sobre a explicação.

DILTHEY E SUA QUESTÃO COM DROYSEN

A escola histórica alemã problematizou a história universal iluminista buscando apoio na hermenêutica romântica, na discussão sobre a vida e a singularidade do passado. 

Coube a Dilthey tornar essa hermenêutica uma preocupação histórica e a dimensão histórica do conhecimento um fundamento das ciências do espírito. 

Ao lado de Droysen e de Ranke, Dilthey se opunha à filosofia da história, pois entendia que preceitos idealistas e metafísicos como os de ideia, essência ou liberdade, não encontravam expressão perfeita na realidade histórica. 

Droysen, por sua vez, afirma que a história é uma soma em curso ao reconhecer a dinâmica e a variedade das expressões de vida. Renegando o Iluminismo e o caminhar de uma história universal das civilizações, certamente sob a influência do pensamento de Hume e Herder, Dilthey, como Droysen, não poupava críticas à Kant, ao realizar a crítica da razão histórica.

A RELAÇÃO DOS PRINCÍPIOS POSITIVISTAS DE DILTHEY

Dilthey resiste à completa absorção dos estudos humanos em uma abordagem unificada pelos princípios do positivismo. Ele diz não a isto, sustenta a especificidade dos estudos científicos e filosóficos do humano, destacando que as humanas compreendem (verstehen) e as ciências naturais explicam (erklären).

Para ele é a compreensão e a atitude crítica a ela associada que definem, portanto, a metodologia adequada às ciências do espírito, o método hermenêutico: “a transferência do próprio eu a algo exterior e a consequente transformação desse eu através do processo de compreensão”

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Forte abraço e até o próximo conteúdo.

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SOBRE O AUTOR

BENÍCIO FILHO

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP e Filosofia pela Universidade Dom Bosco. Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios. Pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups). Sócio fundador da Agência Black Beans e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis ambos em Portugal. Atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”. Em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.

Construir conhecimento só é possível quando colocamos o aprendizado em prática. O mundo está cansado de teorias que não melhoram a vida das pessoas. Meus artigos são fruto do que vivo, prático e construo.