Demi Moore interpreta o papel principal no filme de horror e ficção científica “The Substance”, onde encarna Elisabeth Sparkle, uma celebridade em decadência que recorre a uma substância do mercado negro para rejuvenescer, um produto com efeitos poderosos e perturbadores.
Essa “substância” permite que ela assuma uma versão jovem e aprimorada de si mesma, mas as consequências revelam uma trama de autodestruição e terror psicológico.
Dirigido por Coralie Fargeat, “The Substance” explora temas de desespero e auto-ódio, algo que Moore mencionou ser crucial para sua preparação emocional para o papel. Ela descreveu o trabalho no filme como um projeto que poderia ser um marco cultural, uma vez que trata de questões contemporâneas ligadas à autoimagem e aos extremos da busca pela juventude.
O filme teve sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2024 e foi muito bem recebido pela crítica, com destaque para a performance intensa e envolvente de Moore.
Aqui, exploro os temas centrais do filme, oferecendo uma análise sobre como ele desvela os desafios, as contradições e os estereótipos que circundam o feminino.
Mas antes de entrar no tema, quero deixar claro que esta análise é minha, escrita por um homem que assistiu ao filme. Posso estar cometendo erros justamente por não ter a visão plena do feminino. Peço perdão por eventuais equívocos de leitura.
A obsessão pela imagem e a autoestima feminina
A narrativa do filme gira em torno da necessidade de Elisabeth de preservar sua posição e influência, refletindo a realidade de muitas mulheres que sentem uma pressão contínua para manter uma imagem idealizada.
A “substância” oferecida pelo laboratório é uma metáfora dessa pressão: ao buscar a “melhor versão” de si mesma, Elisabeth nos lembra do quão facilmente a autoestima pode ser abalada por padrões externos de beleza e sucesso.
Nessa busca pela imagem ideal, o filme explora com profundidade até que ponto vale a pena sacrificar autenticidade e saúde para atender a expectativas impostas.
A obra também levanta a questão de como a indústria da beleza se aproveita dessa vulnerabilidade, lucrando com a insegurança das mulheres e promovendo a ilusão da perfeição.
O papel das redes sociais na construção do ego feminino
Elisabeth, como figura pública, é constantemente julgada e pressionada a se adequar a padrões rígidos, expondo o impacto das redes sociais na construção de um ego frágil e dependente de aprovação externa.
A oferta de “melhorar” sua imagem ao usar a substância nos leva a questionar até que ponto as redes moldam a percepção das mulheres sobre si mesmas.
O filme explora como o ciclo de likes e validações cria um sistema de recompensas ilusório, que muitas vezes afeta a saúde mental e emocional das mulheres.
Ao retratar Elisabeth como uma figura pública, a obra ilumina como a pressão para agradar a audiência pode levar a decisões radicais e autodestrutivas.
O pseudoempoderamento e o controle sobre o corpo
A promessa de uma versão “melhorada” de Elisabeth é também uma reflexão sobre o pseudoempoderamento: até que ponto mudanças externas realmente promovem o bem-estar interno?
Fargeat provoca o espectador a entender que o controle sobre o próprio corpo muitas vezes é apenas uma ilusão vendida pela sociedade de consumo.
A ilusão de poder associada à aparência reforça que o empoderamento feminino não deve ser limitado a padrões externos de beleza, mas sim à autonomia genuína.
O filme nos desafia a refletir sobre o verdadeiro significado de autoconfiança e se ela pode realmente ser comprada ou manipulada.
O papel da mulher na indústria do entretenimento
“A Substância” destaca como mulheres em posição de destaque enfrentam julgamentos duplos: além de suas habilidades, sua aparência é constantemente colocada em pauta. A demissão de Elisabeth é um exemplo de como a indústria costuma rechaçar mulheres que não seguem seu padrão de “novidade”.
O filme mostra a fragilidade das carreiras femininas em áreas onde a aparência é hipervalorizada, questionando o valor dado ao talento em relação à imagem.
A pressão para parecer jovem e atraente não é limitada ao entretenimento, mas reflete uma visão mais ampla da sociedade sobre o papel da mulher.
Reflexões sobre a autenticidade e a identidade feminina
No decorrer do filme, Elisabeth percebe que o verdadeiro desafio não é “melhorar” para os outros, mas manter-se fiel a si mesma. A substância, que parecia um atalho para o sucesso, é revelada como um obstáculo para sua autenticidade, e a história a obriga a redescobrir sua identidade.
A autenticidade é apresentada como uma força, permitindo que Elisabeth reavalie seu valor fora das normas e padrões que lhe foram impostos.
O filme nos lembra que encontrar a verdadeira identidade é uma jornada que requer coragem para romper com estereótipos e buscar aquilo que realmente nos faz felizes.
Conclusão
“A Substância” nos convida a refletir sobre os estereótipos do feminino e a pressão da sociedade por um ideal inatingível. A história de Elisabeth Sparkle é um alerta para todas as mulheres que se sentem oprimidas por padrões externos, mostrando que a verdadeira “melhoria” vem de dentro.
O filme nos desafia a repensar o que significa ser autêntico e a questionar o custo emocional e psicológico de se encaixar em um molde.
Domar o ego e preservar a autenticidade são, talvez, as lições mais valiosas desta obra, e isso nos lembra que o verdadeiro poder feminino reside na coragem de ser quem se é, sem ceder às pressões sociais.
Forte abraço e deixe seu comentário para nós.
Leia também: ENSAIOS SOBRE A ANGÚSTIA – COMO A SUPERAÇÃO DAS NOSSAS ANGÚSTIAS PODEM NOS CONDUZIR A UMA NOVA VIDA
SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP e Filosofia pela Universidade Dom Bosco. Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios. Pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups). Sócio fundador da Agência Incandescente e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis, ambos em Portugal. Atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”. Em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.