Família, sociedade e religião. Olhando o que hoje somos, seria muito mais fácil apenas pensar no que nos transformamos e delegar as outras pessoas a responsabilidade pelo que vivemos. Parece estranho começar este artigo dessa forma, mas você ficaria surpreso do que enquanto terapeutas ouvimos no divã sobre o passado da grande maioria que com coragem resolve investigar sua vida.
Claro, que não irei comentar fatos que ouvimos na clínica, porém refletir sobre alguns deles mantendo o anonimato dos autores nos ajuda a compreender melhor a responsabilidade que temos em desvelar nosso passado e as nossas origens.
Recentemente em outro artigo, escrevi sobre ancestralidade. Confesso que esse artigo vale a pena sua leitura uma vez que o tema acima despertou o seu interesse. Leia o texto “Ancestralidade: Somos parte de uma herança”.
O INÍCIO DA TERAPIA
Certa vez, uma senhora com pouco mais de setenta anos, iniciando pela primeira vez uma terapia, fora dos círculos que apenas indicavam a ela remédios e mais remédios, começava sua busca pelas experiências vividas em sua bem distante infância e juventude.
Interessante constatar que por mais que esta senhora já tenha vivido e para muitos tenha tido tempo de elaborar ou mesmo esquecer boa parte dos fatos e experiências ocorridas, ela ainda sentia como que em dores de parto, muito sofrimento pelas agressões às quais fora exposta.
Em determinadas experiências já haviam se passado mais de setenta anos sem que ela conseguisse superar ou parar de sofrer por isso. É oportuno dizer que por jamais ter tido acesso a terapia desencadeou-se um quadro de depressão crônica ainda em sua juventude.
Tal quadro, década após década, transformou-se em uma enorme doença psíquica que simplesmente a credencia a tomar remédios o restante da vida. Família, Sociedade e Religião são segundo a psicanálise os grandes modeladores da nossa identidade.
Partindo destes três pilares, pense comigo o momento de mundo que vivemos. Temos diante de todos nós uma geração de crianças que já está marcada por uma pandemia que levou muitas pessoas à escuridão.
Olhando por outro ponto, presenciamos ao longo dos últimos meses um escalar nas demandas por atendimentos psíquicos. Bem, não sou profeta para ficar aqui divagando sobre o futuro, mas com toda a certeza, ou damos a devida atenção às necessidades emocionais dos que amamos, ou teremos que passar boa parte dos nossos dias em clínicas por ingerir tantos antidepressivos ou remédios para dormir.
APENAS ACORDANDO DO SONO PODEMOS ABRIR OS OLHOS PARA O QUE ESTÁ ACONTECENDO
A grande maioria dos traumas que essa senhora apresentava em consulta foram desencadeados ou promovidos dentro da primeira família que todos temos. Aquela família nuclear que é composta por quem no início da sua vida foi responsável pela sua origem.
No caso dela, pai e mãe presentes e uma dezena de irmãos. Ela como filha mais velha carregava nos ombros a dureza de um pai que replicava sua formação de agressividade e uma mãe que marcada pela ignorância e ausência de tempo, uma vez que mãe de um filho por ano não tinha outra coisa a fazer a não ser cumprir as demandas diárias.
Fruto disso tudo foi um ser humano marcado por agressões, angústias e que ainda tornou-se refém de uma experiência castradora dentro da instituição religiosa a qual fazia parte.
FAMÍLIA, SOCIEDADE E RELIGIÃO É MUITO DIFÍCIL SAIR DESTE CICLO
É muito difícil sair deste círculo sem que a continuidade dos traumas fosse replicada por ela também. Mas veja como mesmo em solo quase estéril a vida clama por liberdade. Em um casamento que em princípio parecia ser outra cela, ela conseguiu construir uma família e mesmo não tendo o amor da mãe e pai que tanto dói a ela, soube amar intensamente a família que construiu.
Acordar do sono que entramos e da inércia a qual como sociedade mergulhamos é urgente, mas depende de cada um de nós. Acordar do sono é um ato individual, não um cataclisma comum.
Na família nuclear, somos moldados e certamente boa parte do que chegou até este momento tem sua solidez ou amargura forjada pelas experiências desta primeira família. Como algo que acolhe nossa vida, os movimentos religiosos ou civis em muitos casos são a segunda experiência de viver em grupo.
Eles, por sua vez, quando muito enviesados trazem mais consequências do que podemos imaginar. A sequência desta jornada são nossas experiências no que podemos chamar de sociedade.
Escola, trabalho, relações com amigos etc., constroem e sedimentam o que seremos. Gosto de refletir que ainda como crianças, pouco temos de ação ou de consciência para mudar o rumo das coisas.
À medida que crescemos, começamos a fazer parte de outro estágio. Podemos sim, acordar deste sono e não mais sermos levados pelos ventos mais sim, começarmos a nós mesmos dominar o timão das nossas vidas.
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NA TERAPIA PODEMOS TER AS CHAVES DAS PORTAS QUE APARENTEMENTE ESTÃO FECHADAS
Na busca por entender quem somos, quase que inevitavelmente iremos bater em portas que não queremos abrir, temos medo de abrir ou ainda não temos pelo menos a nossa vista as chaves para abri-la.
A terapia é libertadora, ela em si não tem nenhum poder ou mesmo um terapeuta pode utilizar de remédios para auxiliar no tratamento. Mas o terapeuta mais relevante das chaves é a escuta.
Na escuta, revela-se uma imensidão de sentimentos e experiências. As chaves quase sempre estão ao acesso de uma pergunta bem formulada ou de um questionamento que provoca uma revolução interna.
Lembro, certa vez, desta mesma senhora que ao ser questionada sobre alguns pontos, ela cerrou os olhos e como se quisesse engolir o terapeuta libertou de sua garganta.
“Como você ousa perguntar tal intimidade para uma senhora…”
A resposta a ela abriu uma das portas que estava fechada…
“Temos duas escolhas aqui. Você pode ignorar minha pergunta e continuar fazendo de conta que estamos fazendo terapia ou responder e começar a tirar as milhares de pá de terra que estão sob seus sentimentos”.
Família, Sociedade e Religião. Somos moldados por estas referências, mas jamais esqueça que você é o único responsável pelo ser humano que se tornou. Como adultos, podemos mudar tudo que vivemos.
Ter coragem é o primeiro passo, mas o passo fundamental é começar uma ação e retomar sua vida.
Você pode com certeza elaborar ou mesmo ressignificar a sua existência. Mas se acreditar que precisa de ajuda, conte conosco do Instituto Elaborar.
Forte abraço e até nosso próximo encontro.
SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.
Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).
Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.
Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.