INOVAÇÃO E FOLIA: O QUE APRENDEMOS COM O CARNAVAL?

Mais uma temporada de Carnaval terminou e o que podemos aprender com esse movimento além da diversão? Vejo que inovação e folia são bons temas para reflexão para compreendermos este movimento que, particularmente em São Paulo, ganha uma dimensão maior a cada ano.

Você já sabe, querido leitor, que vivemos nos dias atuais uma enorme polarização entre A ou B. Seja por questões partidárias, sexistas ou ainda esportivas, parece que ou você é do time que está no poder ou ganhou o troféu, ou você é diretamente levado para o inferno.

Será mesmo que precisamos viver tamanha rivalidade ou seria melhor aprendermos um pouco sobre tolerância, bom senso e inovação com o Carnaval? Essa é uma provocação que vejo ano após ano crescer dentro de mim, mas que ganha enorme força nesse momento.

MUDANÇAS NO CARNAVAL – INOVAÇÃO E FOLIA JUNTAS

Quando iniciaram as ações promovidas pela Prefeitura de SP há quase dez anos, de fomento ao Carnaval de rua na cidade de SP, presenciamos, lembro bem disso, uma chuva de críticas.

Em um primeiro momento, qualquer ação que fazemos em relação à inovação tem suas correntes de oposição. Afinal, não seria diferente o posicionamento, já que inovação tende a ser a corrente contrária ao status quo vigente. O bacana do movimento inicial é que ele teve como base o incentivo dos blocos de rua justamente nas regiões aonde tínhamos degradação urbana ou havia um claro movimento de retorno das atividades.

ADAPTAÇÕES E CONEXÃO COM O LUGAR

Um fato interessante inicial desse movimento que uniu inovação e folia era o dado que em quase sua totalidade a população da capital nesta época festiva saia da cidade em busca das praias ou das cidades do interior.

Não houve, é óbvio, muita estruturação desse movimento por parte dos órgãos responsáveis. Veja que nem sanitários químicos na época existiam como contrapartida ao início do movimento.

Uma vez criado o espaço, a população o ocupa. Esse é um mantra repetido pelos urbanistas Brasil afora. A questão é que quando analisamos o momento de mundo que vivemos, percebemos que o espaço que as pessoas querem é o espaço onde elas se sentem bem. A conexão com o “lugar” está mais relacionada à inclusão que esse lugar proporciona do que com o espaço propriamente dito.

Quero dizer que não é por que estamos, por exemplo, em uma região determinada como subúrbio que as pessoas deixaram de ocupá-la. Se esse lugar oferecer conexão com as pessoas, ele será ocupado.

Neste ponto, inovação e folia são as regras que presencio com o passar dos anos no Carnaval de rua de SP. Bacana de ver, gostoso de participar e para alguns que analisam o movimento e comportamento humano, o Carnaval tem se transformado em uma imersão de informações sobre o que está ocorrendo com as pessoas.

O QUE A FESTIVIDADE PROPORCIONA

As relações que são apresentadas ao longo da folia carnavalesca representam, por exemplo, aquilo que está entalado no peito de muita gente, porém nestes momentos elas encontram força e o poder do grupo para se manifestarem.

As opções sexuais viram relações harmoniosas e, salvo exceções, demonstrações claras de tolerância. Nas diferentes regiões da cidade, assistimos grupos do Brasil inteiro utilizarem como palco para folia as ruas da cidade.

Seria inimaginável pensar a cidade como palco anos atrás. A questão que cerca esse comportamento é a liberdade e a força dos grupos. Quando digo que inovação e folia estão no DNA do Carnaval de rua de SP, reforço o contexto relativo à tendência de comportamento.

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ANALOGIAS E FOLIA

Olhe para dentro da sua empresa ou ainda para os grupos que se relaciona e faça você mesmo as analogias que presenciamos no Carnaval. Inovar é compreender o diferente como oportunidade de agregar conhecimento. Durante o carnaval, percebo que muito além da folia estamos vivendo um momento de profundas transformações em relacionamentos.

Claro, tudo pode ser melhorado como, por exemplo, a quantidade de lixo gerada que não tem nenhum sentido de ser. Mas, por outro lado, essa troca proporcionada por esse momento em que tantos diferentes estão juntos tem elevado a capacidade de colaboração, incrementada à ocupação das ruas, ainda difundindo entre os participantes o sentimento de pertencimento – esse é um legado enorme da folia.

Quando sentimos que somos parte do local, como comentei acima, transformamos a realidade onde estamos inseridos. Desenvolvemos o sentimento de cuidar para que não haja degradação e ainda, em uma instância maior, esse sentimento de pertencimento instiga as pessoas a quererem mudança. Empreender é sinal de mudança, inovação é sinal de mudança, assim como pertencimento.

Vivemos, sem dúvida, um novo momento. Que a inovação e folia possam não apenas ficar nos momentos de Carnaval, mas sim adentrar nossas organizações, levando o frescor e inquietação dos blocos de rua a nossas ideias e relações. Quando pensar novamente no Carnaval de SP, pense como você poderia aproveitar melhor toda a teia de conexões e inovações promovidas pela folia.

SOBRE O AUTOR

Benício Filho

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.

Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).

Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.

Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.