INTERNACIONALIZAR É UMA MARATONA E NÃO UMA CORRIDA DE 100 METROS

Certa vez em um treinamento que ministrava para empresários interessados em internacionalizar suas empresas, fui questionado por um deles porque eu sempre dizia que internacionalizar era uma maratona.

Temos fome de resultados como empresários. Isso não é de todo mal. Na verdade após anos empreendendo e construindo empresas, sei muito bem como em muitos momentos é complicado esperar o tempo certo.

Como uma planta que para germinar sua semente primeiro precisa ter preparado o solo com seus elementos essenciais assim também é internacionalizar uma empresa.

Entenda que ter o solo correto e a semente correta não é garantia de uma planta saudável. Regar no tempo certo, cuidar das pragas, dosar o sol são apenas algumas variáveis deste processo.

O resultado depende da tomada de decisão correta no momento certo com as pessoas corretas tendo os elementos e informações.

Como fazer um processo de internacionalização como se fosse uma corrida de 100 metros?

Nestes seis anos intensamente vividos neste universo de empresas brasileiras que buscam seu espaço no mundo ainda não encontrei quem fizesse bem uma internacionalização a toque de caixa.

Chamo sua atenção para não cair na chamada “ilusão internacional”. Você deve conhecer empresas que acreditam ser internacionais, pois conseguiram vender pelo modelo eletrônico para algumas dezenas ou centenas de clientes.

Internacionalizar uma empresa é ter presença internacional e para isso muitos itens devem ser levados em consideração. Não se iluda, internacionalizar é uma maratona.

Mas tenha claro em sua mente. Preparo físico correto, cuidados com o corpo, boa hidratação e alimentos corretos levam um ser humano normal a participar de maratonas incríveis.

Longe de serem super-heróis os maratonistas. Eles são pessoas normais que com disciplina venceram suas limitações.

Internacionalizar é isso. Disciplina, planejamento, pessoas certas e boa visão do que é desejado com este processo.

Por que por Portugal? Bem, convido você a percorrer comigo esta jornada pelo mundo da internacionalização. Será um prazer compartilhar contigo um pouco destes anos de experiência entre o Brasil e o mundo.

Lembre-se, você também pode ser um maratonista!

PORTUGAL COMO PORTA DE ENTRADA PARA A EUROPA

Alguns anos atrás, quando estive em Portugal depois de quase vinte anos de minha última visita, fiquei surpreso com o que encontrei.

Vinte anos atrás, tudo parecia um pouco estranho. Muito abandono das cidades, cheiro ruim nas ruas e um sentimento de tristeza no rosto das pessoas. Confesso que achei que nunca mais voltaria a Portugal.

A vida, porém, deve ser como acredito vista por ciclos. A cerca de oito anos, assumi a presidência de um instituto de tecnologia em SCS. A frente deste instituto, organizava missões para países da America Latina a fim de entender e analisar oportunidades para os associados. Em sua grande maioria empresas de tecnologia brasileiras.

Em uma destas missões, recebi um convite para visitar novamente Portugal. Na ocasião, foi apresentado a mim um cenário interessante de retomada econômica após reformas e uma priorização por parte do governo e sociedade na criação de empresas e geração de empregos nas áreas de tecnologia.

Confesso, em um primeiro momento fiquei cético. Mas fiz questão de organizar uma viajem para Portugal e entender o que estava ocorrendo.

Nesta viajem, conheci hubs de inovação, centros de excelência, programas de fomento, compreendi como a Europa estava se movimentando em energias limpas, segmentos de baixo impacto de carbono e ainda segmentos tecnológicos.

Voltei muito surpreso de Portugal. Nesta viajem também conheci um dos meus futuros sócios e fundadores da nossa empresa em Portugal.

Também destaco que mesmo compreendendo que Portugal havia feito reformas econômicas importantes, ainda faltava em minha visão uma resposta ao porquê esta internacionalização deveria ser feita por esse país.

Muitos acabam respondendo esta pergunta dizendo que a língua é este fator de atração das empresas brasileiras para Portugal.

Mas este dado não é simples de ser definido. Sim, o português é similar entre nossos dois países, mas essencialmente diferente em seu contexto e detalhes.

Outro ponto é que em Portugal quase 80% da população fala inglês. Isso ajuda muito a entrada de empresas do mundo todo lá.

Mas também existe um grande contingente dos chamados nômades digitais que moram em Portugal, mas trabalham para o mundo.

Desta viajem uma coisa ficou clara para mim, havia algo acontecendo em Portugal que poderia ser muito interessante para empresas brasileiras. Faltava apenas entender como seria possível realmente fazer a entrada das instituições brasileiras na Europa e no mundo apartir de Portugal.

Leia também: ECONOMIA EM PORTUGAL ATUALMENTE

DO ESTUDO COMPORTAMENTAL PARA INTERNACIONALIZAR

Foram anos de estudo, análise, validações com um time português e meus sócios fundadores até entendermos que existiam componentes culturais bem além da língua que tornavam Portugal esta porta de entrada.

Chamo este processo de transculturização. O que na verdade compreendemos é que um processo de internacionalização de empresas brasileiras para a Europa através do Hub Portugal deve ter como objetivo auxiliar um movimento dentro das empresas de entendimento cultural entre os dois países.

Compreendendo estas similaridades e diferenças, seria possível começar a efetiva entrada de uma empresa brasileira por Portugal.

Claro que o produto ou serviço precisa fazer sentido no mundo não apenas no Brasil. Mas respeitar este processo já seria um ótimo início de jornada.

Efetivamente, percebemos que este procedimento reduz a probabilidade de insucesso do processo e dá resposta aos maiores desafios apresentados pelos promotores que já iniciaram a internacionalização dos seus negócios.

Não conseguiremos neste material descrever em detalhes como o processo de internacionalização que acreditamos que funciona em seus detalhes, mas não irei deixar você sem entender alguns pontos essenciais dele.

Para qualquer país que deseja internacionalizar os pontos que vou relacionar abaixo deveriam ser considerados por você. Em se tratando o Brasil de um país continental como somos, arrisco dizer que uma empesa que está sediada e tem seus clientes na região norte, poderia aplicar estas escalas de análise para ofertar seu produto no sul do Brasil, por exemplo.

Esteja atento aos aspetos de cada uma das escalas e não subestime em hipótese nenhuma sua importância individual.

AS 8 ESCALAS DO COMPORTAMENTO PARA INTERNACIONALIZAR

Este modelo serve para perceber como lidar com diferentes culturas, abrangendo os seguintes oito pontos:

  1. Comunicação: Baixo contexto vs. alto contexto
  2. Avaliação: Feedback negativo direto vs. Feedback negativo indireto
  3. Persuasão: Princípios vs. Aplicação
  4. Liderança: Igualitária vs. Hierárquica
  5. Decisão: Consensual vs. Top-down
  6. Confiança: Baseada em tarefas vs. Baseada em relações
  7. Desentendimentos: Confronto vs. Evita o confronto
  8. Gestão de tempo: Linear vs. Flexível

É importante salientar que estes pontos refletem uma média cultural, podendo verificar-se alguns outliers dentro de cada cultura.

Como forma de ilustrar nossos estudos, exemplifico como somos próximos de Portugal em uma das escalas do comportamento.

AS 8 ESCALAS DO COMPORTAMENTO – 8. GESTÃO DO TEMPO

As duas formas de compreender o conceito de tempo:

  1. Tempo linear: Seguem horários de forma rigorosa. É comum planear e preparar com antecedência todos os projetos e tarefas. Os passos devem ser dados de forma sequencial e organizada, sendo o foco principal os prazos estabelecidos. Rapidez e boa organização prevalecem sobre a flexibilidade
  2. Tempo flexível: Horários são seguidos de forma flexível. Os passos dados num projeto são abordados de forma fluída, sendo as mudanças de planos bem aceites e compreendidas. É dada importância à capacidade de adaptação da organização.

A escala nos mostra com base em estudo que estamos muito mais próximos de Portugal neste quesito do que, por exemplo, de países latino-americanos que nem aparecem no quadro.

Você ficaria muito surpreso ao ver as demais escalas como estamos próximos de Portugal e distantes de países que achamos serem interessantes para nossos produtos e serviços.

Uma ilusão que frequentemente encontro em empresas que desejam internacionalizar é o anseio de querer rapidamente vender sem entender se existe alguém para comprar seu produto ou serviço.

Lembra da corrida de cem metros? Tem um enorme malta (assim que dizemos em Portugal), ou explicando um enorme número de empresas do Brasil que apenas querem vender. Queimam a largada pela falta de planejamento e pela fala de percepção do eu, realmente precisa ser feito quando se trata em internacionalizar.

Querer financiar um processo de internacionalização com vendas é maravilhoso, mas se engana quem pensa que começar vendendo é o melhor caminho.

No mundo da internacionalização quem deseja vender sem entender o mercado queima a largada e fecha fronteiras para suas marcas.

Eu tenho uma centena de casos para apresentar a você, mas não vem ao caso externá-los aqui. O que quero que reflita é que em uma internacionalização deve percebê-la como uma maratona. Sendo assim, vamos começar a falar das fases para que você consiga chegar aos seus objetivos.

MEU PRODUTO OU SERVIÇO FAZ SENTIDO FORA DO BRASIL?

Acredito que o primeiro e mais importante passo é realmente entender se existem clientes que comprariam seu produto ou serviço por mais de uma vez.

Claro, quase a totalidade das possibilidades de sermos inseridos em um mercado pressupõe que nossas empresas sejam compradas mais de uma vez. Conquistar um cliente demanda energia épica de uma empresa.

Imaginar um cliente comprando seu produto ou serviço uma única vez é algo impensável. O chamado CAC, custo de aquisição de cliente, deve estar em nosso radar de métricas sempre.

Mas apenas compra e recompra um produto um cliente que vê em nossas empresas a resposta ou a cura de uma dor que ele tem. Comprar para acumular não faz sentido mais no mundo.

Esse é o modelo de negócios que a Europa já abandonou há anos. Se você tem dúvida disso, veja como eles moram, consomem e interagem com as redes sociais.

Casas muito menores que as nossas, consumo de produtos e bens em volume muito menor que os nossos. Dependência das redes sociais infinitamente menor que a nossa.

A sociedade do consumo preconizada pelo movimento do acúmulo de bens não faz sentido em uma relação de harmonia com a terra. A Europa há anos desenvolve modelos de crescimentos que privilegia o bem-estar e qualidade de vida.

Longe de ser perfeito este modelo e dos países da Europa serem o paraíso. O que quero dizer é que enquanto em muitos lugares do mundo energias renováveis, produtos com baixo impacto no ambiente e relações mais harmônicas são desejos e projetos, na Europa em muitos contextos isso é realidade.

Partindo destes princípios que externei, será que sua proposta de valor faz sentido na Europa? Primeiro você deve estar atento se sua cadeia de geração de valor está de acordo com estes princípios acima.

Segundo, pense bem como seria vender e ofertar seu produto ou serviço em Portugal. Ele é nosso espaço de ensaio para a Europa.

Como seria vender seu produto com baixa adesão do digital? Com e-commerce é muito mais simples do que no Brasil? Quais são os desafios enormes em chegar no mercado consumidor?

Entenda, sem antes estudar se seu produto faz mesmo sentido fora do Brasil, qualquer movimento de entrada apenas pensando em obter clientes pode ser um enorme pesadelo para você.

Conheço outras centenas de histórias de empresários que investiram dezenas de milhares de euros em projetos que tinham boa renda no Brasil e bom número de clientes, que em Portugal não passaram de modelos de negócios de subsistência.

Você tem dois caminhos no quesito entender se existe mercado para o seu produto ou não em Portugal.

O primeiro é a corrida de cem metros: Sinceramente eu não recomendo, mas se quiser sair vendendo em Portugal sem saber se eles querem ou não seu produto o risco é seu.

O segundo, esse eu gosto mais, é primeiro estudar o mercado, compreender a partir de dados de diagnóstico se faz sentido ou não ofertar seu produto em Portugal. Este processo pode sim levar algum tempo, mas garante que seu investimento não entre no ralo.

ENTENDA PORTUGAL COMO SUA BASE DE EXPANSÃO PARA O MUNDO

Portugal é uma nação pequena. Seus dez milhões de habitantes consomem pouco e podemos destacar que Portugal se trata em termos de envelhecimento da população, o país que mais sofre com este fenômeno natural.

Sua população envelhece e pouco cresce com taxas de natalidade baixas. O Brasil neste ponto tem muito a ajudar Portugal. Nossa imigração tem auxiliado Portugal a manter seus níveis populacionais inclusive.

Já somos em Portugal perto de 400 mil. Muito significativo em uma população de dez milhões. Muitos brasileiros, no entanto, têm disputado o mercado de trabalho formal com outros portugueses.

Esse é um caminho complicado em minha visão, empreender deveria ser nosso objetivo. Esse sim, é um caminho aonde tanto o interesse do estado como os incentivos pavimentam um caminho interessante.

Se por um lado o mercado consumidor de Portugal é pequeno e pouco atraente, o contingente de estrangeiros e os impressionantes números de turismo chamam nossa atenção as oportunidades em validar modelos de negócios para os passos seguintes pelo mundo.

Como já percorremos, as oito escalas do comportamento nos norteiam para Portugal. Mas não é apenas por nosso estudo que apontamos Portugal como está porta de entrada de empresas brasileiras para o mundo.

A posição de Portugal em relação a Espanha, fase natural da expansão da sua empresa para os demais países da Europa. Sua conexão com a Inglaterra, países da América do Norte e seus acordos com as nações da África já determinariam este posicionamento estratégico.

Macau que é portuguesa abre uma porta na China e cria uma relação única de Portugal com a maior economia do mundo em poucos anos. Portugal ainda como parte da comunidade europeia dispõem dos recursos e financiamentos que alimentam programas de incentivo e incrementam estratégias de expansão.

O planejamento de internacionalizar partindo de Portugal é estratégico acima de tudo. A organização de Portugal também por natureza de negócios os chamados cluster auxilia na tomada de decisão inclusive quando a pergunta é onde instalar sua empresa.

Apenas para apresentar um cluster, tecnologia se encontra por definição nas cidades de Lisboa e Porto. Essas são as cidades onde financiamentos, condições econômicas e mão de obra são mais favoráveis para sua instalação.

Leia também: APEX E O PROGRAMA STARTOUT LISBOA

INTERNACIONALIAR: RESPEITE AS DIFERENÇAS CULTURAIS

Nossa língua e origem histórica nos aproxima e sobre isso não nos resta dúvida que estamos diante de boas oportunidades.

Um dado que gosto de analisar é que em uma recente mudança na conceção de nacionalidades portuguesas algumas estimativas apresentam dados que possam existir no Brasil mais de dez milhões de descendentes diretos de portugueses.

Bem, imaginar que existe um Portugal dentro do Brasil é incrível, mas como sempre digo, o que nos aproxima também é o que pode nos separar.

Digo isso porque encontro em Portugal com frequência brasileiros que querem transformar Portugal em um mini Brasil. Entenda caro amigo, Cascais não é a Tijuca porque Cascais é Cascais.

Quanto mais queremos que Portugal pareça o Brasil mais perdemos nossa oportunidade de entender e compreender como Portugal sendo Portugal gera mais oportunidades para nós inclusive.

Não somos estrangeiros em Portugal, mas também não é do nosso jeito como brasileiros que iremos realmente empreender e internacionalizar nossas empresas por Portugal.

Essencialmente é na diversidade que a inteligência é criada. Compreender que enquanto brasileiros nós temos de bom e eles enquanto portugueses podem acrescentar em nossa visão de mundo gera potenciais enormes.

Quando ouço algum brasileiro criticando o que ocorre no cotidiano de Portugal, reflito.  Na verdade, queremos repetir modelos, não percebemos que devemos estar atentos ao modelo de vida deles. O que falta perceber por parte de muitos brasileiros que tentam este processo de viver fora do Brasil no fundo é compreender a enorme oportunidade de crescimento que tem pela frente.

Apenas para uma reflexão quando eles os portugueses fundaram a universidade de Coimbra com seu primeiro curso que foi de medicina, faltariam ainda mais de 200 anos até sermos descobertos.

A universidade de Coimbra tem mais de 700 anos. Será mesmo que um pouco de humildade nossa em entender este país não seria uma boa estratégia?

A REDE DE RELACIONAMENTOS É ESSENCIAL NESTA EXPANSÃO

Se por um lado o digital não deve ser considerado cegamento para sua entrada em Portugal, o modelo mais tradicional de abertura de oportunidades tem grande valia por lá.

Uma boa rede de relacionamentos pode definir seu sucesso e seus primeiros clientes. Associação setoriais, de movimentos ou de classe que no Brasil não creditamos muita seriedade, porém elas têm grande representatividade em Portugal.

Reuniões nestas associações abrem portas e constroem caminhos para suas conexões. Em uma celebre frase do meu sócio ele dizia que quando começamos em Portugal ele tinha um orçamento para cafezinhos.

Percorreu quase que todos os principais players do mercado para conhecê-los pessoalmente. Bancos, empresas, associações, empresários e desta maneira começou uma rede que seria nosso suporte para a operação.

Este movimento foi de tal forma acertado que hoje somos procurados pelo nosso networking em Portugal.

A importância de entender este ponto também se reflete em uma questão que deve ser sempre levada a séria. Portugal é um país muito pequeno, quase todos no mercado se conhecem.

Você pode responder para mim que isso é interessante, pois, afinal Portugal sendo pequeno ajudaria nas conexões uma vez que poderiam ser feitas mais velozmente. Devo dizer a você que não é bem assim.

Um ponto de atenção muito relevante é que facilmente você é conhecido por todos em Portugal, para o bem ou para o mal. Imagine como destaquei acima a importância do respeitar os costumes locais.

Entenda que ser conhecido, por exemplo, como alguém que não se deve falar por não respeitar o país que quer empreender pode rapidamente fechar todas as portas a você. Talvez você ficasse surpreso com o número enorme de empresas e pessoas que não conseguem abrir reuniões em Portugal.

Leia também: PORTUGAL PODE SER UMA NAÇÃO DE STARTUPS?

INTERNACIONALIZAR: COMPREENDA COMO É EMPREENDER NA EUROPA

Chegamos a um momento bastante relevante do nosso artigo. Estamos aqui descrevendo a maratona que é internacionalizar.

Além de fazer o movimento correto, ter produto ou serviço com aderência ao mercado pretendido, respeitar os costumes e criar uma rede sólida de networking você precisará estar bem atento aos mecanismos legais, jurídicos e tributários.

Quando falamos da Europa, estamos explanando sobre a zona do euro. A zona euro, oficialmente designada por área do euro, e coloquialmente referida como Eurozona, refere-se a uma união monetária constituída por 19 Estados-membros da União Europeia que adotaram oficialmente o euro como moeda comum.

Fazem parte da zona do euro: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Holanda, Portugal, Grécia e Espanha. Alguns países fazem parte da União Europeia, mas resolveram não adotar a moeda única, a exemplo de Inglaterra, Suécia e Dinamarca.

Negociar e vender para estes mercados pressupõe alguns pontos de atenção. Primeiro é que o regime fiscal praticado na Europa poderia ser comparado ao nosso Lucro Real. Basicamente você precisara estar muito atento aos custos e lucros da empresa.

Lembrando que na Europa os lucros são fortemente taxados. Ter uma empresa muito lucrativa como percebemos no Brasil que não taxa lucros pode ser um péssimo negócio na Europa.

A diferença no modelo tributário poderia ser por si só um grande ponto de atenção, mas os contratos que farão parte da sua vida devem estar sempre alinhados com um advogado especialista.

Apesar da tributação ser mais complexa que o comum Simples Nacional do Brasil tendo os controles corretos e estando atento ao recolhimento de impostos, rapidamente você entra em voo de cruzeiro.

Os contratos, porém, deve estar em análise sempre que você for ter contratações, acordos comerciais ou mesmo negociações.

Na Europa, diferente do Brasil o advogado deve ser seu parceiro de negócio no dia a dia diferente do contador que no Brasil assume este papel.

A zona do euro apesar de ser uma reunião comum, guardo em muitos quesitos diferenças importantes entre as nações.

Gosto de ilustrar estas diferenças com um exemplo. O Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, RGPD 2016/679 é um regulamento do direito europeu sobre privacidade e proteção de dados pessoais, aplicável a todos os indivíduos na União Europeia e Espaço Econômico Europeu que foi criado em 2018. Ele regulamenta também a exportação de dados pessoais para fora da UE e EEE.

Conhecemos no Brasil a LGPD e caso esta sigla seja novidade para você, procure informações com seus advogados. As regulações destas leis serão fundamentais para sua empresa continuar na legalidade caso ela tenha dados sensíveis.

Vamos ao nosso exemplo. Se você tem uma empresa de software em Portugal e no seu servidor tem dados dos clientes de Portugal e pretende começar a atender clientes na Espanha, precisara, segundo a lei instalar ou contratar na nuvem um novo servidor na Espanha para que lá esteja os dados dos seus clientes espanhóis.

Em uma primeira análise parece loucura ter que fazer isso, afinal estamos falando de quase vinte países diferentes. Seria grosso modo como que para cada estado brasileiro eu tivesse que ter um novo servidor de banco de dados para armazenar as informações de cada clientes.

Sim, este paralelismo está correto. A RGPD preconiza justamente isso. Meu objetivo com este exemplo é ilustrar na pratica a você como as diferenças entre os países apesar de estarem na zona do euro impactarão seu negócio para a sua expansão na Europa.

Minha sugestão é que você em sua maratona de internacionalização não releve a importância de ter parceiros locais que auxiliem você neste projeto. Ao longo dos anos, outro grande esforço nosso foi criar uma rede de parceiros.

Escritórios jurídicos, contabilistas, consultores e os mais diversos profissionais para suportar os diferentes desafios que nossos clientes apresentam.

ESTEJA ATENTO ÀS OPORTUNIDADES

Acredito que se você tenha chegado até este momento é porque percebeu valor no material que foi redigido.

Somos associados a Câmara Portuguesa de São Paulo há muitos anos. Na verdade, participamos ativamente de diversas câmaras ao longo do Brasil. Este trabalho desenvolvido pelas câmaras é essencial para os negócios Brasil, Portugal.

Minha gratidão a toda equipe da Câmara Portuguesa de São Paulo pela oportunidade deste momento.

Nesta linha, gostaria de fechar meu artigo levando a você algumas percepções importantes que ao longo dos anos foram fundamentais para que eu e meus sócios estivéssemos atentos as oportunidades.

Em primeiro lugar, destaco a importância de participar das associações como bem comentei em um tópico acima. Desta maneira, ser associado as Câmaras Portuguesas deveria ser prioridade para você, caso seu desejo de internacionalizar para Portugal e Europa seja um desejo forte.

Um segundo ponto que gosto de destacar é a força dos eventos presenciais. Claro que a pandemia ainda não acabou, mas cansamos dos eventos remotos, porém eles supriram bem o buraco que ficamos.

Com todos os cuidados, os eventos presenciais já retornaram. Olho no olho é essencial para bons negócios. Participe de eventos que estejam alinhados com seu core business e projetos futuros.

Nestes eventos, pergunte e ouça com atenção. Não queira falar muito mais do que ouvir. Lembro que certa vez em um destes eventos que confesso nem dei muita relevância, afinal tinham pouco mais de vinte pessoas, conheci em um breve bate-papo um homem que se tornaria o meu maior cliente em Portugal.

Quando estamos atentos às pessoas que tocam nossa vida, temos a incrível possibilidade de realmente perceber quem de fato está comigo. Não é trivial estar atento a isso.

Hoje, somos sugados pelos equipamentos digitais que tornam nossa vida um sopro, pois não dedicamos atenção ao que importa tendo como ponto de partida que caso não tomemos cuidados, estaremos o tempo todo olhando a tela do celular.

Outro exemplo que dou é ser um associado da Câmara Portuguesa. Se você entrar para este movimento tendo o valor mensal como custo ou partir para uma agressiva tentativa de venda aos demais associados dos seus produtos, confesso isso fechara as portas para sua empresa rapidamente.

Ser associado de uma instituição é gerar autoridade. Construa pontos com os organismos desta associais, participe dos seus conselhos e diretivas, esteja de fato envolvido.

A construção de oportunidades em uma rede de relacionamentos também deve ser percebida como uma maratona, não uma corrida de cem metros.

Aqueles que apertam o botão vender para qualquer um que veem pela frente desligam o sensor da percepção do que é importante para o outro. Quem compreendeu o que é vender sabe que devo resolver uma dor.

O que deu certo no Brasil não está predestinado a conquistar clientes em Portugal ou em qualquer outro país.

Em um processo de internacionalização, devo deixar de lado minhas convicções e paixões. Preciso também abrir a mente a novas possibilidades inclusive de mudar seu produto ou serviço.

Muitas empresas que começam com um posicionamento terminam um processo de internacionalização completamente diferentes. Entenderam afinal durante a maratona o que é ofertar algo a outro país.

Gosto de pensar na internacionalização como inovação. Quando estamos atentos as oportunidades que temos de aprender com as diferentes culturas que nos deparamos ao longo deste processo, temos a incrível oportunidade de crescermos enquanto seres humanos e empresas.

Uma empresa brasileira que está presente em diversas nações tem uma responsabilidade enorme.

Levar nosso DNA de brasileiros para o mundo é incrível. Temos marcas, produtos e serviços que merecem seu lugar ao sol.

Internacionalizar ainda é pouco percebido por muitos empresários. Fazendo a maratona correta e não subestimando o processo como um todo, tendo aderência de mercado do que está sendo proposto, as chances são grandes de sucesso.

A maratona é árdua. Se prepare, estude, envolva uma equipe, alinhe com sua família seus projetos para o exterior e esteja com as pessoas que podem auxiliá-lo neste processo, pois, afinal essa é a vida delas.

Boa sorte e coragem, vale mais a pena viver quando sentimos frio na barriga com frequência.

AUTOR:

BENÍCIO FILHO

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.

Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Incandescente, sócio fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).

Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.

Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.