LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO: O FIM DAS REGRAS (SEGUNDO SINAL)

Lembro de uma visita comercial que fiz em uma empresa num passado não muito distante em que fiquei mais de quarenta minutos tirando fotos de placas com as mais diversas regras em todos os ambientes que eu conheci.

As regras eram o lema desta companhia. Na recepção havia uma enorme placa dizendo como eu visitante deveria me comportar. Detalhe, outra placa dizia que eu estava sendo gravado desde a entrada.

Meu sentimento era que eu estava em uma prisão. Fiquei pensando como um cliente se sente em um ambiente desse. Será mesmo que devemos partir do princípio de que o outro precisa ter limites para tudo?

Concordo com muito quando sou questionado da necessidade de regras, pois enquanto brasileiros temos um altíssimo déficit em educação.

Sim, esta é uma visão, mas acreditar que apenas delimitando espaços e comportamentos iremos suprir a ausência de educação é simplificar a questão e definir os seres humanos como animais que apenas precisam ser doutrinados com regras.

Acredito que este seja o ponto de partida para a compreensão deste segundo sinal. Quando lideramos com a mão forte das regras, perdemos a oportunidade de ensinar a nossos liderados o que é liderança e motivação no serviço.

Temos uma jornada em direção a libertação do excesso de regras em que nos enfiamos. Mas somente com a demonstração do serviço podemos passar desta fase castradora para uma nova fase em que a entrega seja o ambiente diário.

Como?

Mudando nossa forma de demonstrar o que é o serviço e ensinando no lugar de construir regras. Neste artigo que apresento o segundo sinal da série de cinco sinais da queda da liderança tradicional aprofundo este tema e desejo levar você a uma nova forma de lidar com os limites que cada um de nós deve perceber e ressignificar.

O FIM DAS REGRAS

Será que é possível perceber o fim das regras? Se você tem filhos, tenho a impressão de que este tema fica mais fácil para compreender. Mas caso não tenha, fique tranquilo.

Minha geração foi forjada em duras regras. Tudo tinha um porquê e a liberdade experimentada por nós, era de certa maneira fruto da quebra de regras que vivenciamos.

Meus pais deixavam muito claro o que podia e o que não podia ser feito. Quando algo saia do controle deles, a punição vinha. Em sua maioria punição física.

A geração após a minha, provou de um grande afrouxamento das regras. O que presenciamos foi uma escalada no acesso às drogas, na violência juvenil, no distanciamento da escola e tudo isso com grandes consequências.

Longe de afirmar que apenas o afrouxamento das regras ou da educação rígida foram os únicos fatores de tudo isso. Mas quando tiramos algo, temos que colocar outra coisa no lugar.

Na teologia, dizemos que não se pode tirar a fé de ninguém. Caso você destrua a fé de uma pessoa, reflita, que deus você colocou no lugar?

Onde o bem não habita, cresce o mal. Já dizia Santo Agostinho.

As regras são essenciais para nortear o caminho. Regras claras quando alinhadas a disciplina tem grande impacto na formação. Crianças precisam de norte em sua vida. Sozinhos eles não sabem por onde ir.

A questão é que criamos ambientes em nossas famílias, empresas e comunidade onde ter regras é um mau sinal. Mas a liberdade desejada deve ter como balizador o propósito do porquê.

O serviço surge como um horizonte e sinal importante da nova liderança e motivação. A liderança ressignificada conquista, acolhe e agrega na dimensão do servir.

Quando eu sou exemplo do serviço ao outro, gerou empatia e conexão. Quando estamos conectados a um forte propósito, queremos fazer parte não apenas do momento, mas do todo.

Você já parou para pensar do porquê faz suas atividades do dia a dia? O que faz realmente sentido na sua rotina você faz com total entrega ao mundo.

Esta é a dimensão do serviço. Quanto a ele, posso ainda me questionar. O que faço pelo mundo é algo bom? As pessoas sentem verdadeiro sentimento de pertença à minha entrega?

Bem, estamos mais próximos de compreender por que o servir é um passo importante em busca da nova liderança e motivação.

Leia também: O FUTURO DA LIDERANÇA: A QUEDA DO PODER (PRIMEIRO SINAL)

LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO: A DIMENSÃO DO SERVIR

O que foi nos apresentado ao longo da nossa formação enquanto pessoas sobre o ato de servir? Ele é facilmente confundido com fazer algo ou mesmo estar em função de algo.

O esforço é buscar um olhar em relação ao servir, mas longe dos olhos da religião que trabalhou e trabalha exaustivamente nesta dimensão.

Quero buscar com você uma melhor compreensão do que é estar a serviço. Ampliando sua visão e buscando as verdadeiras razões do porquê estar a serviço.

Refletindo sobre isso, pense comigo, quantas vezes você intencionalmente esteve a serviço de algo?

Quando fazemos algo temos normalmente o compromisso com alguma entrega. Este sentimento de que é necessária uma obrigação ou tarefa gera a obrigação que destoa da entrega do serviço.

As regras impõem a obrigação de cumprir algo, caso contrário o ônus aparecerá. Quando no lugar das regras entra o sentimento da entrega, descolamos a obrigação e mergulhamos no serviço.

Lembra aquela pessoa que você sempre vê cuidando de uma praça pública, aquele amigo que está sempre presente ou ainda pessoas próximas que simplesmente estão ao nosso lado?

Podemos ir mais além, uma multidão está em nosso dia a dia no trabalho, vida pessoal, comunidade e associações fazendo e entregando sua vida por missões que não são apenas delas.

Estas pessoas não são movidas por obrigação. Elas são movidas pelo serviço.

Se você já participou de alguma comunidade religiosa, certamente irá lembrar de pessoas que mesmo com tempo escasso entregavam uma parte valiosa dos seus dias a causas que elas acreditam valer a pena.

Quando olhamos a nossa liderança e motivação, devemos refletir quais causas que lideramos valem a pena para que pessoas as vivam como entrega.

Nossas empresas quando nascidas de propósitos claros e essenciais geram naturalmente engajamento pela entrega.

Quando as regras e as leis definem o compromisso dos envolvidos, não cabe muito espaço para viver o que somos.

A ausência das regras não é a anarquia. Quando o compromisso da entrega é o agregador não há necessidade de regras.

UMA NOVA LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO SÃO POSSÍVEIS

Sim, é possível uma nova liderança e uma nova motivação. Ela tem nome é a Liderança Ressignificada.

No lugar do poder temos a autoridade, no lugar das regras o serviço. Muito mais ainda temos pela frente até chegarmos à construção dela.

Claro que não pretendo aqui exaurir o tema. Ele nasce da minha liderança, por isso escrevo sobre o que experienciei e vivo dia a dia.

Seria uma utopia falar de liderança teoricamente. Não é o acadêmico que escreve aqui, mas sim, o ser humano forjado pela vida.

Os próximos sinais nos esperam e desejo que você esteja comigo. 


SOBRE O AUTOR

Benício Filho

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.

Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).

Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.

Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.

Construir conhecimento só é possível quando colocamos o aprendizado em prática. O mundo está cansado de teorias que não melhoram a vida das pessoas. Meus artigos são fruto do que vivo, prático e construo.