É complicado demais escrever algo que faça referência a um momento pós-coronavírus, como a liderança feminina. Estamos justamente no meio desta onda de informações conturbadas, entre quarentena, isolamento total ou, ainda pior, muitos de nós sentimos que estamos perdidos.
Afinal temos uma certeza: nossos líderes desconhecem o caminho que devemos percorrer. Sim, sei que é complicado falar de algo pós tudo que estamos vivendo, uma vez que nem sabemos ainda quando isso irá passar.
Sim, também sei que não existem vencedores ou que romantizar esse vírus por um suposto encontro com nossa humanidade perdida parece algo ridículo diante do cenário que estamos.
Sim, eu também sei que delegar para os líderes respostas para algo inédito como o que vivemos estes últimos dias representa apenas se ausentar de protagonismo. Eu também sei que vivemos em uma nação polarizada que demoniza quem não é o que o outro quer que seja. Sim, ser do contra e demonizar o outro é um novo mantra em nosso querido país, que muitas vezes vive uma crise existencial do que somos.
MUDANÇAS PROVOCADAS PELA PANDEMIA
Bem, não vou conseguir mesmo escrever algo pós-coronavírus. Porém, caro leitor, uma certeza eu tenho: o que aprendemos sobre liderança em sua grande maioria não serve mais para nada.
Precisamos voltar nossos olhos para nossa humanidade e, acima de tudo, mergulhar no universo da liderança feminina ressignificando nossa liderança. Que bom que posso dizer isso e não ouvir das maiorias masculinas que é papo de mulher ou dos homens que optaram por uma opção sexual diferente da hétero.
Não preciso mesmo defender o que sou, mas há anos vivo, ensino e escrevo sobre liderança. Minha crise sempre recaiu ao que muitos chamam de Sagrado Feminino.
Sim, são elas, as mulheres, que entendem a docilidade do amor em sua natureza mais bela. Vivem, na verdade, muitas vezes sem entender a profundidade da doação aos extremos. São elas, as mulheres, que não precisam ser iniciadas na experiência do amar, elas afinal têm potência de gerar o amor. Sim, apenas elas são capazes “se quiserem” de gerar a vida.
FEMININO E A LIDERANÇA RESSIGNIFICADA
Ao longo dos séculos, nossas sociedades tiveram medo da força e sabedoria do feminino. Mesmo nós, homens, olhamos nosso lado feminino com desconfiança. Temos anseio de acreditar que podemos ser dóceis, amorosos e sensitivos sem que isso afete nosso masculino.
Desta forma, escondemos a docilidade que podíamos ter, externando apenas a fragilidade da agressividade. É bem complexo para nós, homens, mas natural para elas. Ouvir seus sentimentos, sentir antes de condenar, ouvir mais do que falar, aceitar muitas vezes por amor ou mesmo porque elas desenvolveram uma sensibilidade que as permite apenas esperar.
Quem já não ouviu da sua mãe aquela frase: “Eu bem que te avisei”? O que seria mesmo das nossas sociedades sem elas? Bem, tenho certeza que não restaria muita coisa, isso sim seria terra arrasada.
O FEMININO AO LONGO DA HISTÓRIA
Com medo dessa sabedoria que afinal é natural delas, nós homens aprisionamos o feminino. Descartamos a opinião delas por séculos. Denunciamos como apostas, prostitutas ou ainda bruxas em referência às mulheres que faziam o mal e não ao movimento de sabedoria das bruxas.
Por sinal, esse grupo pode ter sido um dos mais perseguidos pelos homens. Sim, ser mulher na história da humanidade apenas teve seu reconhecimento verdadeiro quando ainda éramos nômades.
Elas, nesses grupos, sempre tiveram poder determinante. Criavam os filhos, cozinhavam, eram responsáveis pela liderança feminina, poder atribuído às mais maduras, e ainda detinham o conhecimento medicinal.
EVOLUÇÃO SOCIAL
Nosso processo de sedentarização, algo que ocorreu na última era glacial, nos tirou da África e nos levou para a região da antiga Mesopotâmia, hoje atual Iraque. Neste processo, priorizamos a força do masculino como mais importante do que a sabedoria e a sensibilidade feminina.
Foram séculos de evolução da sociedade, em que muitos movimentos matriarcais foram aniquilados pelo poder patriarcal. Entendo que não precisamos mais forjar o aço com a força do martelo, mas sim ouvir o outro sem julgar com a sensibilidade do amor de quem não precisa dos olhos para ver.
Essa é a sabedoria do feminino. Essa liderança que vivencia o feminino podemos chamá-la de liderança feminina ressignificada. Provavelmente essa seja a única certeza que tenho pós-coronavírus.
Precisamos das mulheres mais do que nunca e precisamos urgentemente ouvir nosso feminino para que assim possamos renascer enquanto espécie. Se é a vida que queremos colocar no centro, precisamos compreender que a “vida” precisa de muito cuidado, carinho e amor, não mais agressividade, arrogância ou intolerância.
MOMENTO DETERMINANTE
Quero relembrar um momento muito importante em minha vida, quando enfim comecei a compreender melhor o feminino e a construir o que chamo de liderança ressignificada. Era novembro de 2017, estava lá eu na abertura do Web Summit em Portugal.
Neste momento, na abertura do Web Summit, algo iria mudar em minha vida. A palestra inicial era dele, Stephen Hawking. Em março do ano seguinte ele não mais estaria entre nós. Em sua palestra, ele falava do medo que deveríamos ter do avanço da tecnologia, desde que essa fosse utilizada para o mal.
Ele falava que a inteligência artificial, aprendizado das máquinas e tantas outras inovações, poderiam representar para a humanidade nossa face mais bela ou nossa face do mal. Segundo sua visão, Hawking discursava dizendo que apenas uma mudança em nossa evolução poderia atenuar essa trajetória para o mal. Deveríamos desenvolver nosso feminino evoluindo da agressividade para a compaixão, nascendo assim em minha mente e alma o que chamo de liderança ressignificada.
LIDERANÇA FEMININA E RESSIGNIFICADA
Temos diante de nós uma grata oportunidade de ressignificar nossa liderança. Podemos, sem pré-conceitos, unir mais e mais homens e mulheres para mergulhar no feminino, compreendendo a linguagem do amor que respeita a Gaia, nossa Terra.
Apenas sentindo que a verdadeira espiritualidade nasce quando reconhecemos nossa humanidade. Não é possível reconhecer nossa essência sem olharmos com clareza para o que somos. Quando olhamos para o que somos, apenas enxergamos o que a morte não leva quando não respiramos mais, o amor.
Liderança Feminina é compreender a exponencialidade de sentir a coragem de gritar e a sensibilidade de enxergar pelo coração, não mais pelos olhos. Essa é a essência da liderança ressignificada.
O mundo grita por uma nova liderança. Ela não mais será uma demonstração de arrogância, ódio ou agressividade. Pode parecer utópico, mas ou compreendemos o feminino do humano ou será tarde para tentar livrar o humano da destruição que ele próprio criou.
Liderança feminina é colocar a vida no centro, pois apenas compreendendo a vida respeitaremos nosso maior bem e quem somos, ressignificando assim a liderança em si.
SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.
Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).
Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.
Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.