Viajar é uma forma de aprender com o corpo inteiro. É deixar que os pés caminhem por novas calçadas, os olhos absorvam paisagens inéditas e o coração se abra ao inesperado. Foi exatamente isso que vivi na minha última imersão pela Alemanha — uma jornada profunda, sensível e estratégica, que trouxe sete aprendizados que vão muito além dos roteiros turísticos. Neste artigo, compartilho com você os principais insights que surgiram dessa vivência, repleta de história, cultura, encontros e descobertas.
Ao longo de quase um mês, percorri Berlim, Munique, Nuremberg, Leipzig e Hamburgo. Cada cidade me ofereceu uma camada diferente da alma alemã — e, ao mesmo tempo, espelhos para refletir sobre mim mesmo, sobre o Brasil e sobre os caminhos possíveis da internacionalização e do empreendedorismo global.
A história nos atravessa — e ensina, se estivermos dispostos a escutar
Estar em Berlim é caminhar por uma cidade que não esconde suas cicatrizes. O Muro ainda está lá, em pedaços que contam histórias.
Os bunkers da Segunda Guerra, os museus, os memoriais e até os guias de turismo falam com emoção contida. Percebi que, na Alemanha, a história não é apenas lembrada — ela é vivida, diariamente, como uma forma de compromisso com o futuro. E isso me fez pensar: o quanto nós, brasileiros, silenciamos nossas dores coletivas?
O quanto poderíamos crescer como nação se, como os alemães, transformássemos nossas feridas em memória viva e responsabilidade?
A excelência está nos detalhes (e nos trens que chegam no horário)
Um dos grandes choques culturais é perceber como tudo funciona com uma precisão quase cirúrgica. Trens, reservas, horários — nada está fora do lugar.
Mas, mais do que uma obsessão por controle, há ali um respeito profundo pelo tempo do outro. É a cultura da confiança sendo colocada em prática diariamente.
Esse aprendizado é crucial para quem empreende ou lidera equipes: excelência não é um evento. É um hábito. E começa nos pequenos gestos.
O design das cidades molda o comportamento das pessoas
Munique, Leipzig e Nuremberg revelaram algo fascinante: o espaço público bem projetado convida ao convívio. As praças, os parques, as ciclovias, os mercados de Páscoa — tudo está ali para ser vivido com prazer.
A arquitetura não apenas embeleza, mas educa. Me fez pensar o quanto nossas cidades, muitas vezes, se afastam, em vez de se aproximar. O quanto o urbanismo também pode ser uma forma de liderança invisível, moldando comportamentos e fortalecendo o senso de pertencimento.
Cultura não é entretenimento — é identidade
Assistir à Paixão Segundo São Mateus, de Bach, em Leipzig, com a Gewandhausorchester e o Thomanerchor, não foi apenas emocionante. Foi transcendental. Não se trata de consumir arte como um produto, mas de mergulhar numa herança cultural que é, ao mesmo tempo, orgulho e alimento.
A Alemanha entende que cultura é pilar de desenvolvimento — e investe nisso com seriedade. Esse é um aprendizado essencial para qualquer sociedade (ou empresa) que deseja durar mais que uma geração.
A internacionalização começa dentro de nós
Durante os encontros com a equipe da Ravel em Berlim e os passeios solitários por cidades desconhecidas, percebi como a internacionalização é, antes de tudo, um estado interno.
Não basta mudar o CEP da sua empresa — é preciso mudar a sua mentalidade. É preciso aprender a observar o mundo com curiosidade, escutar com humildade e construir pontes com o diferente.
A Alemanha, com sua força econômica e diversidade cultural, é um excelente laboratório para isso.
A Páscoa na Alemanha é mais que uma festa — é uma celebração comunitária
Em cidades como Branfeld, onde vimos a famosa fogueira de Páscoa, foi possível revelar a cultura local e o apreço pelas tradições. Estar ali nos colocou em conexão com o povo alemão e, ao mesmo tempo, nos permitiu perceber o novo ciclo da Páscoa que se iniciava.
Criar rituais que conectam gerações e reforçam valores coletivos é um esforço contínuo deste povo que luta para que nunca sejam esquecidos os horrores da Segunda Guerra Mundial.
Fica claro, portanto, que, enquanto muitas sociedades avançam no individualismo, a Alemanha ainda cultiva com força o espírito comunitário. E isso, definitivamente, não é algo ultrapassado. É revolucionário.
Hamburgo me ensinou que o futuro mora nos portos
Encerrar a jornada em Hamburgo, com seu porto gigantesco e sua arquitetura moderna integrada à memória industrial, foi simbólico. Ali, vi com clareza o encontro entre tradição e inovação. Hamburgo não olha para o mar com nostalgia, mas com estratégia.
A cidade é um ponto de conexão global, e, por isso mesmo, um convite para pensar como as empresas brasileiras podem — e devem — olhar para o mundo com mais ambição e coragem. A internacionalização não começa no aeroporto. Ela começa na mente de quem decide atravessar fronteiras com propósito.
Esses sete aprendizados de uma imersão na Alemanha me transformaram. Não apenas como empresário ou consultor, mas como ser humano.
A viagem não acabou quando voltei para casa — ela segue viva nas perguntas que me faço todos os dias, nos projetos que conduzo, nas decisões que tomo.
Se você pensa em viver ou empreender na Europa, comece pelo essencial: permita-se mergulhar profundamente na cultura, nas cidades e nas pessoas. Porque é lá, no detalhe da experiência vivida, que mora o verdadeiro valor de internacionalizar.
Se este texto te tocou de alguma forma, compartilhe com alguém que precisa ouvir essas lições. Porque, no fim, todo aprendizado só ganha vida quando é partilhado.
Forte abraço e deixe seu comentário para nós.
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SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP e Filosofia pela Universidade Dom Bosco. Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios. Pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups). Sócio fundador da Agência Incandescente e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis, ambos em Portugal. Atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”. Em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.