NÃO EXISTE GLAMOUR EM EMPREENDER

Empreender tem sido uma das palavras mais pronunciadas recentemente e posso dizer que tenho contribuído para isso. Acredito mesmo que apenas o empreendedorismo pode resolver boa parte dos problemas da humanidade. Utilizo inclusive em minhas palestras um slide cujo tema é: “Apenas o empreendedorismo pode salvar o homem no mundo”.

Sim, o homem, pois o mundo e a natureza continuarão com certeza independente de nós. Porém, por que parece que virou moda falar em empreendedorismo? Em primeiro lugar, que fique claro que nem todo mundo irá empreender. Para empreender são necessárias algumas capacidades, que é claro, podem ser desenvolvidas, mas que nem todos estão animados a desenvolve-las.

Por outro lado, empreender não é o caminho mais fácil para obter tranquilidade na vida.

Esta reflexão é muito pertinente. Tenho encontrado com muita frequência, jovens ou pessoas mais maduras dispostas a mudar a vida empreendendo. O que tem chamado minha atenção, no entanto, é a relativização das dificuldades que existem em empreender. A primeira ilusão que a maioria dos vocacionados a empreender caem é a cegueira em achar que seu produto ou serviço é inédito.

A esmagadora maioria dos negócios é mais do mesmo com pouca ou nenhuma novidade. Moramos em um pais enorme e com grande população e mercado consumidor e isso leva à segunda ilusão: a possibilidade de empreender para este universo sendo que boa parte dos consumidores poderiam estar em outros países. Poucos negócios hoje existentes no Brasil realmente poderiam ser exportados. Desta forma, ficamos muito fragilizados quanto a possibilidade de crescimento.

APENAS EXISTE UMA EMPRESA SE EXISTIR CLIENTES QUE PAGAM POR SEUS PRODUTOS OU SERVIÇOS

Tendo como mercado nosso país, cabe pensar em uma outra dificuldade. Como ter acesso a mercado e conquistar clientes? Veja que não estou preocupado neste artigo em entender qual é o negócio em questão. Estou apenas delineando sobre o empreender de fato. Acesso a mercado é uma das etapas mais complexas.

Primeiro porque é nesta fase que validamos se este produto ou serviço terá realmente alguém disposto a pagar por ele.

Segundo, vender não é arte, é técnica! Saber como colocar seu produto no mercado exige pesquisa, preparo e conhecimento do produto e do mercado pretendido. Sem falar nas diversas variáveis que estão implícitas na venda. Seja ela para consumidor diretamente ou para empresas, vender sempre é um enorme desafio.

Refletindo sobre os dois pontos acima, poderíamos dizer que empreender pressupõe muito preparo para desafios e dose extra de persistência para validar seu produto ou serviço no mercado. E acima de tudo, muito empenho em testar, aprender e refazer os testes para que o mercado pretendido seja de fato atingido. Veja que outra grande ilusão, e falo aqui por conhecimento de causa pois vejo isso a todo instante, é delegar todo o esforço de vendas para ações de marketing digital ou campanhas eletrônicas.

A enorme maioria das Startups que nascem hoje acreditam cegamente que conseguirão escalar seu mercado apenas com ações na web. É incrível como o desconhecimento da área de vendas põe a perder inúmeros negócios. Talvez tal situação nasça justamente da glamorização que é hoje empreender. Não é nova esta frase, porém já ouvimos uma centena de vezes que na vida, 1% é inspiração é os demais 99% são de suor puro, validando porta a porta, consumidor a consumidor seu produto.

EM UM POWER POINT CABE TUDO, MAS EM UM EXCEL…

Uma boa ideia apresentada em um belo Power Point não suporta as métricas de um Excel quando confrontamos o esforço real com o resultado atingido. Não há mágica em empreender. Para poder ter sucesso empreendendo em primeiro lugar é sempre essencial ter realmente um produto ou serviço inovador. Não digo algo disruptivo, porém algo que realmente leva ao consumidor uma boa experiência. Em segundo lugar, o time ou equipe que pretende colocar esta empresa de pé precisa gastar muita sola de sapato para validar se de fato, alguém compra, como compra e como interage com a empresa. Entender esta relação é a mágica de escalar os demais consumidores e mercados.

Por fim, poderíamos falar do intra-empreendedorismo. Nem todo mundo precisa ter um CNPJ, porém todo CPF pode ser empreendedor. Inovar em nosso trabalho e oferecer uma verdadeira experiência de valor nas relações que tenho no meu dia a dia é com certeza uma boa experiência empreendedora.

Para finalizar este artigo, gostaria de dizer que apenas quando sei para qual caminho vou, posso tomar a decisão correta. Antes de empreender, saiba que neste caminho não cabe glamour, empreender é trabalhar mais que a maioria, dormir menos que todos, frustrar-se muitas vezes e ouvir mais não do que sim. Você está preparado para isso?

Sobre o autor,

Benício Filho.

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela UNIFESP em Neurologia Oftalmológica na área de Empreendedorismo e pós graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, Sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal), atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio), além de participar de programas de aceleração como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros. Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 300 eventos (número atualizado em dezembro de 2019). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul) bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”.