Já ouviu falar em sofistas? Acredito que uma das maiores características do mundo atual é a de requentar conhecimento antigo e profundo em versões ralas e superficiais. Tenho muitos momentos que ao me deparar com um determinado conhecimento sinto impressão de que aquilo que está sendo apresentado é algo que eu já conheço.
Em uma primeira análise, muito do que aprendemos sempre tem como base um conhecimento anterior que o fundamenta. A reflexão que provoco aqui é porque não relacionar o programa, estudo ou curso que está sendo apresentado conectando-o a base de onde ele surge ao verdadeiro criador ou mesmo gerador deste conhecimento?
Bem, minha resposta talvez ajude nesta compreensão. O movimento sofista que tem seu início a partir do século V A.C em Atenas. Como bons oradores, eles eram socialmente bem aceitos. mas eles não acreditavam na possibilidade de chegar ao conhecimento sem que a busca por esse conhecimento tivesse como o objetivo a busca da verdade.
Os sofistas eram mestres em expor seu pensamento por meio das palavras. Eles acreditavam na verdade múltipla, relativa e mutável. Acreditavam que o conhecimento era produzido pelos homens e a mudança de uma verdade dependia da sua capacidade de convencer os ouvintes.
INTERPRETANDO E COMPREENDENDO A REALIDADE
Existe um termo na Teologia que usamos para definir a atualização de um texto ou tema para o momento presente. Chamamos de exegese essa atualização. Em sua origem, este termo faz referência a necessidade que existe de atualizar determinado texto ao contexto vivido e assim poder fazer a reflexão pertinente levando sentido para quem ouve.
Utilizando então a exegese, usamos o conhecimento sem mudar sua “verdade”. No entanto, O que vemos no movimento sofista é justamente o contrário. A interpretação de um determinado contexto depende do interesse da audiência que está escutando ou a quem interessa esse conhecimento.
Persuadir o ouvinte e estar alinhado com o que está sendo proferido é o mais importante. A construção da verdade não importa além da “verdade” que é importante para aquele grupo.
Os sofistas deram uma contribuição significativa à nova polis, sobretudo, na disseminação e democratização do ensino. Contudo, há aqueles movimentos que optam pelos extremos e exageram na transmissão de certo conteúdo, colocando-o em dúvida.
Se afastam do fascínio inicial dos primeiros filósofos pelo conhecimento da natureza das coisas, mas difundiram o racionalismo e foram até chamados de iluministas gregos. Enfim, seus ideais podem até ser questionados e lidos apenas negativamente por causa de uma concepção já difundida, mas não se pode refutar o legado que deixaram, sobretudo, na arte de bem deliberar e a da persuasão.
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QUEM SÃO ATUALMENTE OS SOFISTAS?
Gosto sempre de refletir sobre os movimentos filosóficos fazendo justamente a exegese que comentei acima. Quando olhamos o mundo atual, fica evidente ou não para você quem são os novos sofistas?
Os sofistas atualmente são aqueles que disputam seus próprios interesses, numa oratória que privilegia somente uma parte da população. Sejam políticos, empresários, professores, líderes de organizações, facções ou mesmo religioso, qualquer um que defenda sua verdade.
Em um mundo no qual o fundamentalismo brota em todas as áreas, setores, cercanias, instituições, movimentos, governos, vizinhos, parentes e até em nossa casa. Apenas a busca da “verdade” nos libertará de também sermos propagadores da verdade que nos convém.
O pensamento filosófico lança luzes sobre a compreensão da realidade buscando no conhecimento gerado por gerações de pensadores o melhor entendimento e compreensão da verdade.
O ato de pensar é fundamental, mas bem além do pensar devemos ter consciência de que somos apenas mais uma opinião e não o único caminho ou a verdade absoluta.
SOBRE O AUTOR:
Benício Filho
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.
Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).
Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.
Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.