O DILEMA DE ABRAÃO

A expressão ética da relação de Abraão com Isaac é simplesmente que o pai deve amar o filho mais do que a si mesmo. O domínio da ética possui, entretanto, várias gradações.

Queremos ver se nesse relato existe outra expressão superior da ética que pudesse explicar eticamente seu comportamento, justificar eticamente a suspensão do compromisso ético com filho, sem por isso sair da teleologia deste domínio.

O relato de Abraão pronto para sacrificar seu filho por obediência a Deus transcende a questão puramente do seguimento.

Com seu ato ele transcende a ética em si, e tinha, para além deste, um Telos superior em relação ao qual suspendeu a ética.

Eu gostaria, pois, de saber como se relacionaria o ato de Abraão ao geral, se for possível descobrir outro contato entre o que Abraão fez e o geral além do fato de tê-lo transgredido.

Não é para salvar um povo, para defender a ideia do Estado, para apaziguar a raiva dos deuses que Abraão faz o que faz.

Se o caso fosse a raiva de Deus, este só teria raiva de Abraão, e todo feito de Abraão não teria nenhuma relação com o geral, seria uma questão estritamente particular.

Enquanto o herói trágico é superior por sua virtude moral, Abraão é superior pela virtude puramente pessoal.

Não há maior expressão da ética na vida de Abraão do que o fato de que o pai deve amar seu filho.

Não pode haver questão da ética no sentido da moral. Se o geral, fosse presente, estaria contido em Isaac, escondido de algum modo em seus flancos, e gritaria com a boca de Isaac: “Não faça, vai destruir tudo”.

Por que então Abraão o faz? Por culpa de Deus e, de modo completamente idêntico, por sua própria culpa. Ele faz por culpa de Deus porque este exige dele essa prova de sua fé; e faz por sua própria culpa para conceder essa prova. A unidade disso está verdadeiramente expressa na palavra que sempre caracterizou essa relação: é uma provação, uma tentação. Mas o que significa tentação?

O que tenta o homem é aquilo que o impede de cumprir seu dever, mas aqui a tentação é a própria ética, que o impediria de fazer a vontade de Deus. Mas o que é então o dever? O dever é exatamente a expressão da vontade de Deus.

Leia também: AS CINCO VIAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

ÉTICA É FÉ, O TEMOR E O TREMOR  

Temor e Tremor, obra do pai do Existencialismo (Soren Aabye Kierkegaard 1813 a 1855), aprofunda a perspectiva dialética da existência humana sob o enfoque da fé em relação ao transcendente.

A análise contida em Temor e Tremor ainda possui parâmetros atuais para a reflexão do homem quanto à conduta religiosa, devendo, portanto, ser resgatadas.

O temor a Deus é um sentimento de respeito e reverência praticada pela doutrina cristã, segundo previsto no livro de Hebreus da Bíblia Sagrada: “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo.

O fogo de Deus não abala a ética do humano que munido do seu livre arbítrio se socorre da sua retidão e da sua consciência.

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Forte abraço e até o próximo conteúdo. 

SOBRE O AUTOR

Benício Filho

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.

Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).

Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.

Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.       

Construir conhecimento só é possível quando colocamos o aprendizado em prática. O mundo está cansado de teorias que não melhoram a vida das pessoas. Meus artigos são fruto do que vivo, prático e construo.