O MERCADO DA SAUDADE

A palavra ‘saudade’ remete sempre a algo que nos traz memórias de experiências ou vivências. Elas podem ter sido criadas através de parentes próximos ou em determinados momentos e passagens marcantes em nossa vida.

Nosso cérebro adora a saudade, seja porque utiliza as memórias das experiências vividas para nos atualizar de que aquilo pelo qual estamos vivendo não é novidade, mas sim fruto de algo já vivenciado.

Assim como você, eu já devo ter passado por aquela situação de entrar em algum restaurante e sentir o cheiro de algum alimento que imediatamente desperta em mim inúmeras memórias afetivas.

Nossos sentidos são incríveis para despertar essas memórias, mas em especial o paladar e o olfato são campeões de mexer com nosso cérebro e colocá-lo em plena atividade, quase que o transformando em uma máquina de memórias.

O fato em si não é novo, e ele apenas remete a uma capacidade humana de guardar na forma de registros tudo que vamos vivendo. Da primeira infância à vida adulta, somos forjados pelo ambiente em que vivemos.

Freud, considerado o pai da psicanálise, em sua vasta obra literária, fruto em grande parte da sua observação da mente humana em centenas de atendimentos clínicos, dizia que mais de 25% da nossa formação como seres humanos se dá através do ambiente em que vivemos.

Dito isso, todas essas experiências geram memórias que moldam o que somos. Um ser humano é a soma de tudo que já viveu. Fica mais evidente porque um ser humano sem memória é quase um ser sem vida.

DAS MEMÓRIAS, NASCE NOSSA SAUDADE

Se existem memórias, existe saudade. Quando migramos de um país para outro, começamos uma nova jornada de experiências em nossa vida. Podemos até dizer que, quando mudamos de país, começamos a criar novas “saudades”.

O processo de adaptação em um novo país passa, segundo minha própria experiência de vida, por três estágios:

Até 14 dias em outro país

Neste estágio, somos chamados de turistas. Tudo é novo, quase tudo é belo, e percebemos pouco o que é ruim. Este é um estado de contemplação, muito importante para abrir a mente a uma nova cultura, mas que não desperta grandes sentimentos de saudade.

É certo que, neste estágio, sentimos saudade de um alimento, bebida, família ou mesmo do cotidiano que temos em nosso país. Mas como ao final do ciclo de até duas semanas voltamos à nossa casa, nada gera grandes dores emocionais.

Até 35 dias em outro país

Neste momento, muitos começam a ter problemas. Nosso cérebro, após os 14 dias fora das nossas rotinas, começa a gerar incômodos. Segundo o livro “O poder do hábito”, depois de 21 dias, começamos a formar novos hábitos.

Perda de hábitos, surgimento de novos hábitos, mecanismo cerebral da saudade a todo vapor no nosso cérebro buscando tudo que temos de emoções para nos trazer de volta a nossa vida que perdemos.

Nosso cérebro evoluiu para o conforto. Ele detesta mudar seus hábitos. Tudo que gera novos hábitos demanda uma energia imensa. Este gasto de energia, como não pode ser compensado de imediato, gera dores e desconfortos.

Depois de 35 dias em outro país

Já passei por esta sensação duas dezenas de vezes em minha vida. Depois de 35 dias fora do país de origem, ou começamos a morar de fato neste novo local ou simplesmente não se aguenta. Retornar é a única coisa que se deseja. Mas e se o desejo fosse justamente morar neste outro país? É justamente aqui que nasce o chamado mercado da saudade.

Ele alimenta nosso cérebro das experiências que são fundamentais para que não percamos nossas memórias e continuemos evoluindo no novo país que escolhemos para chamar de lar.

EM PORTUGAL JÁ SOMOS MAIS DE 600 MIL BRASILEIROS

Dados do SEF de Portugal (Órgão que atua no controle migratório em Portugal), de setembro de 2023, apontam que oficialmente os brasileiros bateram a marca de 420 mil moradores oficiais em Portugal. Sendo dados oficiais 420 mil, podemos sem margem de erro dizer que já somos efetivamente mais de 600 mil, porém algumas estimativas apontam para mais de 700 mil. Esse número em constante crescimento há pelo menos dez anos, não parece arrefecer.

Em outras estimativas, estudos de projeção apontam que em meados de 2030, seremos mais de um milhão. Brasileiros já somam o maior contingente de um país individualmente em Portugal mas sem dúvida tendo este número em constante aumento, estamos mesmo vendo Portugal se tornar um pedaço do Brasil.

O ponto porém é que Portugal não é e nunca será o Brasil. E aqui é que nasce uma enorme oportunidade de negócio neste mercado. Com estimativas de cerca de um milhão de pessoas, muitos produtos e até serviços começam a ter viabilidade econômica e podem tornar-se mais populares inclusive na população mais tradicional.

EXISTEM OPORTUNIDADES NO MERCADO DA SAUDADE PARA ABRIR UMA EMPRESA EM PORTUGAL?

Podemos dizer que uma resposta direta é sim. Existe oportunidade em abrir uma empresa neste mercado tendo como público-alvo os brasileiros residentes em Portugal. Claro que você deve estar atento a qual produto ou serviço estamos realmente falando. Nem tudo consegue ficar de pé e dar lucro apenas vendendo para brasileiros.

Cabe também lembrar que não estamos distribuídos em um único lugar, na verdade aquela brincadeira de que todo lugar tem brasileiro não é nada brincadeira. Os brasileiros em Portugal estão nos quatro cantos deste país. De Braga a Porto e Coimbra. De Lisboa a Bragança, percorrendo o país até Monsaraz e voltando para Tomar, todos os recantos de Portugal têm colônias brasileiras.

Como distribuir um produto ou serviço para um mercado que está distribuído por todo o território? Neste ponto, cabe um bom estudo de mercado para definir em que local sua empresa deve focar o acesso aos consumidores e como deve ser definida a melhor forma de fazer isso.

VALE A PENA SE LIBERTAR DOS PRODUTOS QUE JÁ ESTÃO NO MERCADO

Gostaria de lembrar que mesmo havendo oportunidades, não vejo que exista espaço para continuarmos tentando levar produtos brasileiros já consolidados em Portugal. Os casos mais clássicos são produtos como açaí, tapioca, pão de queijo, caipirinha etc. É necessário mais do que um produto que seja tradicional no Brasil para que o mercado da saudade realmente gere boas oportunidades.

Um bom exemplo que gosto de dar é o restaurante Palafita em Cascais. Ele tem como concepção a comida brasileira tendo um forte traço da cozinha amazônica. É um restaurante que leva produtos brasileiros, mas que eleva sua qualidade e margem de lucro, pois justamente sai do trivial. Nasce do mercado da saudade mas tem muito mais do que apenas a saudade como atributo.

Ainda no campo dos restaurantes, as churrascarias, são outro bom exemplo de atendimento a demandas locais do Brasil mas que ganham gosto dos europeus. Que nosso churrasco é bom, não temos dúvida, mas para que um bom churrasco saia, dependemos de bons insumos e bons churrasqueiros.

Apenas uma operação de uma churrascaria já gera uma cadeia de prestadores e produtos. Essa pode ser sua próxima empresa, mas para que ela dê certo, muito planejamento ainda existe a ser feito. Para isso, conte conosco.

ONDE MAIS EXISTE OPORTUNIDADE NO MERCADO DA SAUDADE?

Apesar de muito comuns em Portugal, as cafeterias ainda são uma boa oportunidade de negócio. Com a variedade de grãos que temos no Brasil, isso pode ser um bom negócio desde que esteja bem alicerçado.

As cervejas artesanais ainda são raras em Portugal. Um bom pub ou bistrô com cervejas artesanais e bom menu pode ofertar ao mercado justamente o que não há em Portugal. Dominado pela Super Bock e Sagres, não se acha muita variedade e quando o assunto é cervejas IPAs por exemplo estas marcas erram feio.

Com uma população brasileira enorme, já temos mercado para estas variedades de cervejas, mas o turismo também é outro mercado enorme para estes produtos.

O DESAFIO DA LOGÍSTICA

Como vimos até aqui, existe uma oportunidade, inclusive com detalhes de produtos brasileiros, para o chamado mercado da saudade. Este mercado é sim interessante, mas você deve estar atento à distribuição geográfica dos brasileiros em Portugal.

Os brasileiros acabaram criando verdadeiras “colônias” em algumas cidades de Portugal. O maior exemplo é a cidade de Braga. Hoje mais de 15 mil brasileiros vivem em Braga. Por distribuição geográfica, as cidades que mais brasileiros residem são: Lisboa, Porto, Cascais, Braga.

Abrir uma empresa em cidades que não têm grande expressão de brasileiros, tendo como alvo o mercado da saudade, pode não ser uma boa estratégia. Esteja atento também à concentração da população para que faça sentido sua empresa nestas cidades.

É um erro acreditar que o mercado da saudade tem aderência em outras populações. Outras etnias precisam compreender e fazer experiências do que são produtos brasileiros. Eles podem sim ser consumidores, mas antes, precisam fazer um entendimento do que estamos falando e como podem até mesmo utilizar esses produtos.

Se este tema foi importante para você, deixe seu comentário e veja a seguir como você pode começar hoje mesmo a entender a oportunidade quando o tema é mercado da saudade.

COMECE CERTO EM PORTUGAL

A Atlantic Hub criou processos e jornadas que podem contribuir para ajudá-lo a criar o seu mercado em Portugal. Eu convido você a conhecer melhor como podemos ajudá-lo.

O primeiro passo é estudar seu produto ou serviço em Portugal. Para isso, você precisa conhecer o nosso estudo de mercado Market Fit.

O segundo passo é marcar um momento conosco e conversarmos sobre as melhores estratégias para você acessar o mercado. Tenha certeza de que você estará com quem conhece a Europa e construiu bases sólidas em Portugal. Nosso time terá o maior prazer em ajudá-lo neste processo.

Venha conosco começar esta nova fase da sua vida. Nos da Atlantic Hub, queremos fazer parte desta sua nova história.

Forte abraço e até o próximo artigo.

Leia também: TER EMPRESA NO BRASIL É DIFERENTE DE TER EMPRESA EM PORTUGAL?

SOBRE O AUTOR

BENÍCIO FILHO

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP e Filosofia pela Universidade Dom Bosco. Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios. Pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups). Sócio fundador da Agência Incandescente e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis, ambos em Portugal. Atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”. Em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.