POR QUE PORTUGAL TEM UM DOS MELHORES ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO DO MUNDO?

A resposta a esta pergunta passa por compreender como Portugal, após uma grande crise econômica, decidiu inverter o caminho que até então era trilhado e iniciar uma guinada rumo às empresas com base tecnológica, elencando este modelo como seu modelo central de desenvolvimento.

Para compreendermos qual crise estamos mencionando, realizo um breve resgate histórico. Em seguida, descrevo as ações que viabilizaram a eleição de Portugal como uma nação de startups. Essa crise, frequentemente citada em Portugal, é conhecida como “Troika”.

No caso da Troika Europeia, o seu primeiro objetivo era supervisionar salvamentos econômicos, como o ocorrido na Grécia em 2010. Nessa situação de controle, essa organização deve estar ciente de que o país resgatado cumpre as diferentes medidas e cláusulas em resposta à ajuda recebida das potências europeias.

Da mesma forma, a Troika também foi encarregada de gerenciar o resgate para Portugal. Enquanto na Espanha não houve essa ação, em Portugal, o trabalho de conduzir a troika foi realizado pela Autoridade Bancária Europeia (EBA).

O CAMINHO PARA A RECUPERAÇÃO E O CRESCIMENTO

A obsessão do país durante o período da Troika, por imposição do programa de ajustamento, era a redução do desequilíbrio das contas públicas. O défice diminuiu entre 2012 e 2013, graças ao “enorme aumento de impostos” anunciado por Vítor Gaspar, então Ministro das Finanças, e outras medidas de cortes orçamentais.

No entanto, em 2014, a queda do BES e a sua resolução passaram uma pesada fatura aos contribuintes portugueses. Nos dois anos seguintes, houve uma redução ainda maior do défice. Contudo, em 2017, o défice foi novamente afetado pelo setor bancário, desta vez devido à recapitalização da CGD.

A retoma econômica, no entanto, permitiu melhorar o saldo orçamental mais rapidamente. Em 2019, o país atingiu o primeiro excedente orçamental de sua história democrática. Entretanto, esse marco foi efêmero, já que, em 2020, devido à pandemia, o défice aumentou para 5,7%.

DO DESAFIO À INOVAÇÃO: REFORÇANDO A BASE ECONÔMICA

Em tempos de crise, é imperativo repensar os caminhos percorridos. Assim, Portugal elegeu o empreendedorismo de base tecnológica como os pilares desta retomada. Há menos de 15 anos, pouco se sabia em Portugal sobre modelos inovadores de construção de empresas.

Poucos agentes atuavam no ecossistema. Do início da operação da Fábrica de Startups à criação de uma rede de mais de 170 incubadoras, o ímpeto deste modelo de empreendedorismo reverberou muito além das expectativas do governo e dos portugueses.

EXPANDINDO HORIZONTES: A TRANSFORMAÇÃO DO ECOSSISTEMA

No começo dos anos 2000, quase não havia números significativos de startups e entidades ligadas a esse setor. Após pouco mais de uma década, estabeleceu-se uma rede nacional e vários hubs foram distribuídos pelo país, abrigando agora mais de duas mil startups.

Essa transformação destaca-se como um ponto crucial. Portugal superou a concentração em apenas uma ou outra região, expandindo o mesmo modelo para seus territórios, ao mesmo tempo em que manteve o respeito pelo regionalismo.

A INFRAESTRUTURA E O AMBIENTE FAVORÁVEL

No entanto, as ações do governo não são as únicas responsáveis por esse movimento econômico. Portugal já possuía um ambiente maduro e propício para tal. Alguns exemplos do que existia se mostraram essenciais para o início desse processo.

Com mais de 70% da população fluente em inglês, dezenas de universidades compõem uma das mais importantes redes de ensino superior da Europa. A NOVA, por exemplo, tem cursos de negócios com classificações entre as 20 melhores do mundo.

A infraestrutura de Portugal, incluindo sua rede de fibra e internet de alta qualidade, aliada a regiões com vocações variadas, atraiu inúmeras empresas para se estabelecerem no país. Isso fica evidente com o parque tecnológico Taguspark em Oeiras, que sozinho concentra 18% do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal. Da indústria farmacêutica à tecnologia, a inovação é o lema em cada canto desse ambiente.

DA INOVAÇÃO AO CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

Os programas de aceleração, ao iniciarem suas atividades, promoveram o surgimento de muitas empresas que, com o tempo, se tornaram grandes corporações. Atualmente, em Portugal, fala-se menos em fomentar startups e mais em unicórnios.

As empresas Scale Ups, que geram empregos e riquezas, são o alvo. Atualmente, sete empresas ostentam esse título em Portugal, nascidas deste período recente de revolução econômica. São elas: Farfetch, Talkdesk, OutSystems, Feedzai, Remote, SWORD Health e Anchorage Digital.

UMA OPORTUNIDADE GLOBAL

Além das startups, empresas tradicionais também encontram seu espaço neste movimento inovador em Portugal. Isso é o que, em princípio, torna o país atraente para todos os empresários, especialmente os do Brasil.

Com uma língua igual à nossa e como porta de entrada para mais de 500 milhões de habitantes, Portugal oferece uma rica fonte de aprendizado. Incentivos, inovação, pesquisa e desenvolvimento, validação de mercado consumidor e definição de estratégias operacionais — há muitos motivos para escolher Portugal. Nós estamos prontos para ajudá-lo e queremos demonstrar como isso é possível.

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Leia também: ECOSSISTEMA: SEXTO PILAR DE SUCESSO PARA EMPREENDER EM PORTUGAL

SOBRE O AUTOR

BENÍCIO FILHO

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP e Filosofia pela Universidade Dom Bosco. Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios. Pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups). Sócio fundador da Agência Black Beans e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis ambos em Portugal. Atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”. Em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.

Construir conhecimento só é possível quando colocamos o aprendizado em prática. O mundo está cansado de teorias que não melhoram a vida das pessoas. Meus artigos são fruto do que vivo, prático e construo.