Internacionalizar uma empresa é, antes de tudo, um processo de ampliação de consciência. Mais do que cruzar fronteiras geográficas, é um mergulho estratégico naquilo que nos define como empreendedores: a busca por impacto, relevância e crescimento.
Recentemente, me deparei com um artigo acadêmico que reverberou profundamente em mim, não apenas como empresário e conselheiro, mas como pensador e provocador de futuros possíveis.
O artigo “Internacionalização de Empresas: Perspectivas Teóricas e Agenda de Pesquisa” oferece uma visão panorâmica e, ao mesmo tempo, detalhada dos principais caminhos, desafios e construções teóricas sobre a internacionalização.
Resolvi sintetizar essa leitura em sete aprendizados transformadores. São reflexões que transcendem o jargão acadêmico e chegam ao dia a dia de quem decide sair da zona de conforto para buscar novos horizontes.
1. Internacionalização é um processo, não um evento
Um dos primeiros aprendizados que ecoam fortemente no artigo é a compreensão da internacionalização como um processo contínuo, evolutivo e dinâmico.
Esqueça a ideia de um “grande salto” internacional: o que temos, na prática, é um caminho progressivo, moldado por decisões estratégicas, adaptações constantes e revisões de rota.
Empresas não se tornam internacionais de uma hora para outra — elas se tornam “internacionalizáveis” ao longo do tempo, à medida que acumulam conhecimento, recursos e experiências em mercados externos.
Essa percepção nos tira a ansiedade do imediatismo e nos chama para a sabedoria da construção paciente. Como na vida, internacionalizar é persistir.
2. Conhecimento é o ativo mais valioso para cruzar fronteiras
Outro ponto essencial extraído do artigo é o papel do conhecimento na tomada de decisões sobre internacionalização.
A teoria comportamental, uma das abordagens exploradas no estudo, mostra como as empresas, especialmente as menores, tendem a se mover internacionalmente de forma incremental, com base no conhecimento experimental acumulado.
Em outras palavras: só vai para mais longe quem já se aventurou nos arredores. Aprender, experimentar e entender as nuances dos mercados locais é o verdadeiro combustível da expansão internacional. Neste cenário, o conhecimento tácito — aquele aprendido com a prática, com o erro, com o olhar no olho — vale mais que qualquer relatório de mercado.
3. A cultura pesa mais que a distância
Um dos conceitos que mais me impactou foi o de “distância psíquica”, que se refere não apenas à distância geográfica entre países, mas às diferenças culturais, linguísticas e institucionais percebidas pelos decisores. Internacionalizar para um país próximo geograficamente, mas distante culturalmente, pode ser muito mais desafiador do que operar em um país distante, porém culturalmente próximo.
Essa ideia nos obriga a repensar o mapa-múndi sob a ótica das relações humanas e da empatia cultural. Quando falamos em “entrar” em um novo mercado, o verbo mais adequado talvez seja “conectar-se”. E conexão exige escuta, sensibilidade e respeito pela cultura do outro.
4. Estratégia e oportunidade caminham juntas (mas não ao acaso)
A teoria das redes, também presente no artigo, nos convida a enxergar a internacionalização como fruto de relações estabelecidas, não apenas de análises estratégicas.
Muitas empresas se internacionalizam não porque desenharam isso em um PowerPoint, mas porque foram puxadas por parceiros, clientes ou oportunidades inesperadas. Isso não significa abdicar da estratégia, mas reconhecer que a realidade é mais fluida do que os frameworks tradicionais sugerem.
Assim, o conselho é claro: fortaleça suas redes. Esteja aberto ao improvável. Cultive relações genuínas. E mantenha sua empresa preparada para dizer “sim” quando a oportunidade surgir — mesmo que ela não tenha sido prevista no plano de negócios.
5. O mercado externo exige uma nova identidade organizacional
Um dos insights mais valiosos é perceber que, ao entrar em novos mercados, a empresa não apenas vende produtos ou serviços: ela exporta também sua identidade, sua cultura, seu jeito de ser. E, muitas vezes, essa identidade precisa ser revista, adaptada, reposicionada.
A internacionalização nos obriga a encarar quem somos enquanto organização. Será que nosso branding, nossa proposta de valor e nossos valores ressoam da mesma forma em outro contexto cultural? A resposta quase sempre é não. E isso não é um problema — é uma oportunidade de evoluir, de ressignificar, de crescer.
6. Não existe uma única teoria que explique tudo — e isso é libertador
O artigo é um verdadeiro mosaico de abordagens: teoria comportamental, redes, recursos e capacidades, instituições, empreendedorismo internacional. Cada uma oferece uma lente. Nenhuma é suficiente por si só. Isso, longe de ser um problema, é uma libertação.
Significa que a internacionalização é multifacetada, plural, viva. E que cada empresa deve construir sua própria narrativa, sua própria trajetória. Não há “receita de bolo” — e isso nos empodera a sermos autores da nossa jornada internacional, com ousadia, autenticidade e um pouco de humildade para aprender com o inesperado.
7. Internacionalizar é também uma escolha política e ética
Por fim, o sétimo aprendizado é talvez o mais provocador: internacionalizar não é apenas uma decisão econômica. É também uma escolha política, ética e até existencial.
Qual impacto queremos gerar nos mercados onde vamos atuar?
Que tipo de relação queremos construir com essas novas culturas?
Vamos apenas extrair valor ou também agregar?
Este ponto me toca profundamente. Vejo a internacionalização como uma ponte — e pontes servem para unir, não para dominar.
Ao levarmos nossa empresa para outro país, levamos também nossos valores. Que sejam valores de respeito, inclusão e construção mútua.
Esses sete aprendizados sobre internacionalização me lembram que a expansão de uma empresa é, no fundo, a expansão de uma mentalidade. É sobre estarmos abertos ao mundo — com estratégia, mas também com coração. Que possamos internacionalizar não apenas nossas marcas, mas também nossas consciências.
Que sejamos construtores de pontes, narradores de futuros e criadores de conexões significativas.
Se você está nesse caminho, lembre-se: não existe fórmula mágica, mas existe sabedoria compartilhada. E é por isso que escrevo. Para transformar teoria em prática. Palavra em ponte. Experiência em caminho.
Forte abraço e deixe seu comentário para nós.
Leia também: CINCO SINAIS DE QUE SUA EMPRESA ESTÁ PRONTA PARA INTERNACIONALIZAR PARA PORTUGAL
SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP e Filosofia pela Universidade Dom Bosco. Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios. Pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups). Sócio fundador da Agência Incandescente e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis, ambos em Portugal. Atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”. Em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.