WEB SUMMIT 2023: O QUE PODEMOS APRENDER SOBRE IA?

A expectativa deste ano era grande devido à ausência de Paddy Cosgrave, fundador e CEO do Web Summit. Em um gesto inesperado, Cosgrave se demitiu às pressas para tentar trazer de volta parte da comunidade de negócios ao Web Summit, depois que muitos decidiram boicotar o evento por suas opiniões sobre o conflito entre Israel e Hama

. Mas nada como um dia após o outro. Ou melhor, um CEO após o outro. Escalada poucas semanas antes do evento começar, Katherine Maher (Ex-CEO do Wikipedia), trouxe elegância, acalmou os ânimos e reforçou o papel do evento em promover discussões desconfortáveis.

Mostrou que, apesar do sumiço do seu antecessor, ele ainda deixava uma última mensagem com tom de protesto. E, talvez sem perceber, deixava outra ainda mais importante: que, afinal, ninguém é insubstituível.

Os números do Web Summit falam por si só e apresentam sua força. 900 palestrantes, 2.500 startups e 70 mil participantes de todo o globo. Gente que atravessou terras e mares para tentar saber mais sobre ela: a tão famosa e popular, a controversa Inteligência Artificial.

Talvez algum dia a IA seja onisciente como retratado pelo filme eterno, Matriz, dos produtores Lilly e Lana Wachowski. Mas ninguém pode negar que já faz algum tempo que ela se tornou onipresente. Está por todos os lugares e, apesar de reclamações aqui ou acolá sobre seu domínio, segue sendo a estrela que faz as palestras lotarem, que está em qualquer discurso de startupeiro, nas concorridas rodas de chope do Night Summit.

Curioso imaginar que a última edição do Web Summit aconteceu no mesmo mês do lançamento do ChatGPT, que, inclusive neste momento que escrevo, está em uma crise épica por causa da renúncia do seu CEO e na versão gratuita tem praticamente não funcionado.

Mas a ferramenta que abalou o mundo e tornou a Inteligência Artificial Generativa tão popular quanto Cristiano Ronaldo. Sim, a tecnologia já existia e o ChatGPT não a inventou, como alguns entendidos gostam de afirmar com certo desdém, mas o fato é que a criatura desenvolvida pela OpenAI conseguiu algo inédito:

Alcançar 100 milhões de usuários em apenas dois meses de vida, coisa que o fenômeno Instagram precisou de 30 meses para fazer.

E quais foram, afinal, os passos da IA no Web Summit? Vamos apresentar alguns aprendizados neste artigo que podem ajudar você a construir sua visão sobre o tema.

ACREDITE, EM BREVE VOCÊ NÃO MAIS VAI FALAR EM IA

Como um Gremlin, aquele bichinho esquisito do filme dos anos 90, a GenAI vai se multiplicar de forma acelerada ao seu redor, e você nem vai perceber.

Tudo porque ela estará incorporada, ou “embedada”, no jargão tech, em muitas das coisas e serviços que você usa no seu dia a dia.

Da torradeira ao PowerPoint. Ainda estamos na primeira infância desta tecnologia revolucionária, que promete ser tão disruptiva quanto a Internet foi no passado, e a verdade é que ninguém mais vai perder tempo falando sobre ela, porque: provavelmente, estaremos muito ocupados utilizando tudo o que ela pode nos oferecer.

E DEPOIS DA IA?

A IA é uma ferramenta. Como tal, não vai resolver as questões do seu negócio por mágica. Afinal, até o gênio da lâmpada sempre precisou de um pedido antes (ou seria um prompt)? Portanto, não perca de vista o problema do seu negócio, em vez de esperar que a IA faça absolutamente todo o trabalho por você.

Substitua o “como podemos usar IA” por perguntas do tipo “como podemos diminuir a insatisfação dos nossos clientes”, “como podemos melhorar a experiência com o nosso produto”, ou “como podemos fazer com que os colaboradores sejam mais engajados”. Isso posto, é muito provável que a IA poderá ajudá-lo a atingir estes objetivos com mais velocidade, diminuindo custos e fazendo boa parte do trabalho chato.

NA CHUVA, VENDA LENÇO!

O discurso “nós contra ela” está presente em qualquer ambiente corporativo e remete ao Ludismo, movimento inglês surgido no século 19 que quebrava as máquinas das fábricas com o propósito de preservar o emprego das pessoas.

Nos dias de hoje, muitos gurus acabam por ganhar aplausos fáceis de uma audiência ansiosa ao menosprezar os feitos da IA, como se a negação fosse a chave para um futuro mais tranquilo para todos.

Ainda perdemos tempo competindo com ela, em vez de entender como esse copiloto, mesmo com suas visíveis limitações (ainda bem!), pode ajudar nosso negócio e a nós mesmos. Aproveitemos para ampliar nossas habilidades, e não defendê-las, com unhas e dentes, de uma ameaça alienígena.

Vasco Pedro, CEO da Unbabel, estabeleceu logo na abertura do Web Summit: “todo gestor deve entender que não utilizar a IA pode colocá-lo em uma séria desvantagem competitiva em relação ao concorrente”.

Antecipar movimentos pode fazer toda diferença. Isso vale para pessoa jurídica, mas também para pessoa física.

MAS NÃO SE ILUDA, A REGULAÇÃO É O CAMINHO MAIS SENSATO

A regulação será necessária para nos proteger do mau uso da IA e, ao falarmos sobre isso, é inevitável a associação com outra tecnologia que recentemente ganhou as telas do cinema, por meio da produção Oppenheimer.

Como limitar o possível poder destrutivo de algo tão poderoso? Aqui, o terreno se divide. Há aqueles que desejam uma forte regulação antecipada, outros que preferem deixar o campo aberto para a livre iniciativa.

Não é fácil a resposta. E neste momento, existe uma comissão na União Europeia definindo os marcos de regulação para o uso da IA na Europa. O que presenciamos nas últimas décadas é que todas as regulações que nascem na União Europeia são adotadas pelo resto do planeta.

De forma definitiva, não sabemos ainda, mas o que se desponta são normas rígidas de uso e demonstração onde de fato está sendo utilizada a IA. Um exemplo disso seria este artigo. Segundo as prováveis novas regras, se este arquivo fosse escrito com a IA, ele deveria ter um selo ou marca dizendo que foi escrito com estas ferramentas.

Mas o melhor caminho é o equilíbrio, já que a imprescindível regulação não pode acabar com o futuro de um ser que, ainda no útero, tem o potencial de nos ajudar com problemas que já estavam por aqui bem antes dele nascer: a urgência climática, a brutal desigualdade mundial, as crises econômicas.

O debate é sério e não pode ficar somente nas mãos da turma de tecnologia, que entende de números e códigos, mas pouco sobre pessoas. Importante trazermos cientistas sociais, juristas, políticos, a sociedade toda, enfim, para esta conversa.

Ao fechar o evento, o ministro da economia de Portugal trouxe a marcante frase: “O futuro é onde passaremos o resto de nossas vidas”. Fica a esperança de que todas as vidas possam caber nesse futuro.

Forte abraço e deixe seu comentário para nós.

Leia também: A IMPORTÂNCIA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO COTIDIANO DAS PESSOAS

SOBRE O AUTOR

BENÍCIO FILHO

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP e Filosofia pela Universidade Dom Bosco. Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios. Pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups). Sócio fundador da Agência Incandescente e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis, ambos em Portugal. Atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”. Em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.