Na fenomenologia de Husserl, os fenômenos são a manifestação da própria consciência, por isso todo o conhecimento é também conhecimento de si. Sujeito e objeto acabam por se tornar uma e a mesma coisa.
Desta maneira, segundo a fenomenologia, deve-se voltar-se para as coisas, irmos ao encontro das coisas e fenômenos de forma direta, sem a intervenção ou influência de explicações científicas ou análises reflexivas e metodológicas muito complexas.
Apenas desta maneira, será possível entender o problema em questão. Partindo de algumas definições, podemos dizer que a fenomenologia é um estudo que fundamenta o conhecimento dos fenômenos da consciência. Nessa perspectiva, todo conhecimento se dá a partir de como a consciência interpreta os fenômenos.
AS RELAÇÕES ENTRE A FENOMENOLOGIA E A TEORIA DO CONHECIMENTO
No final do século XIX, a psicologia não só gozava de grande prestígio, mas para muitos parecia a chave de explicação da teoria do conhecimento e da lógica. Para rejeitar essa tese, Edmund Husserl elaborou seu método fenomenológico, produzindo uma obra gigantesca em extensão e profundidade que desafia seus intérpretes até hoje.
Na primeira década do século XX, poucos historiadores consideravam a obra de Husserl. Suas Investigações Lógicas (1900/1901), em vista das numerosas pesquisas neokantianas no campo da epistemologia, chamavam pouca atenção.
Na verdade, pareciam muito próximas da tese de Hermann Cohen de que a lógica deve ser fundamento de um sistema filosófico. Da mesma forma, o ideal da pureza e o postulado da fundamentação da filosofia, sobretudo da teoria do conhecimento, da matemática ou das ciências naturais também podia encontrar-se em Cohen.
Hermann Cohen (1842-1918) buscava um último axioma no qual todo o ser identificado com o pensamento pudesse ser derivado e explicado. Via tal princípio no vir-a ser. A pesquisa sobre o fundamento, que o pensamento matemático deve seguir, em Cohen exerce um papel central. Chama atenção seu esforço para restaurar a filosofia com o status de uma teoria universal da ciência.
A teoria do conhecimento de Cohen tem caráter duplo: por um lado, busca um a priori irredutível, separando conhecimento de experiência, situando-o no puro pensamento; por outro, tenta conciliar o mundo das idéias da lógica pura com o pensamento de Heráclito sobre o devir.
Entende a pureza, não como isolamento, mas sob o aspecto de sua aplicação. Propõe que a filosofia, analogamente ao processo da análise infinitesimal, se adapte ao processo. Cohen procura mostrar que as sensações e a ciência experimental a elas relacionadas são perfeitamente reconstruídas pelo pensamento, sem que algo fique de fora.
HUSSERL SUPERA COHEN E APRESENTA NOVAS ABORDAGENS EM SUA PROPOSTA FENOMENOLÓGICA
Enquanto Cohen atribuíra ao pensamento a dimensão de fim em si mesmo, Husserl tentou superar a aporia do neokantismo, que diluía o ser racionalmente no puro pensamento, fundando o ideal de uma lógica pura na empiria. Vindo de Franz Brentano (1838-1917), com o qual estudará em Viena, primeiro Husserl via conceitos fundamentais da matemática ou aritmética numa psicologia descritiva. Isso está evidenciado em sua obra Sobre o Conceito de Número, publicada em 1887.
Desde o começo Husserl tem o objetivo de superar a oposição entre objetivismo e subjetivismo.
No final do século XIX, ainda reinava um fascínio pelo ideal do conhecimento das ciências da natureza. Husserl quer satisfazer à objetividade do conhecimento, seja ele ideal ou real, e à subjetividade do cognoscente. No seu ensaio de Filosofia da Aritmética (1891) manifesta seu objetivo, mas sucumbe ao psicologismo.
O psicologismo defendia a tese de que a lógica compreende as normas que valem para todo o pensamento certo da mesma maneira como a engenharia apresenta as regras para construir bem. Por isso, como a engenharia se fundamenta na física, a lógica se fundamentaria na psicologia.
Rejeitando o psicologismo, Husserl afirma que as proposições lógicas contêm verdades necessárias, puramente ideais; as proposições da psicologia generalizam interpretações da experiência.
A psicologia pressupõe a existência de seus objetos e a lógica não. Pela crítica ao psicologismo Husserl pensa a propriedade dos atos de pensar, perceber etc., a partir do seu conteúdo de sentido, ou seja, do pensado e percebido.
No decurso da elaboração da fenomenologia, Husserl concentra seu interesse sempre mais nos seguintes problemas: a) Como o mundo real em sua temporalidade, em sua consistência intersubjetiva, em sua objetividade se constitui em nossa consciência? b) Como passar da atitude natural para a atitude filosófica?
No primeiro volume das Investigações Lógicas (1900), cujo subtítulo é Prolegomena para uma lógica pura, tenta mostrar que a lógica é a priori para uma teoria da ciência. Husserl rejeita a ideia de que os fundamentos de uma lógica normativa e de uma teoria do conhecimento se encontram na psicologia.
Da mesma maneira, não aceita a consequência empírica do psicologismo, no sentido de que as leis do pensamento também sejam as leis da natureza, que produziria o pensar racional. Crítica, sobretudo, as concepções de Stuart Mill (1806-1873) e Herbert Spencer (1820-1903) que tentaram fundamentar a lógica antropologicamente. Husserl critica, outrossim, o psicologismo na lógica, que é comum a essas posições, por conduzir a um relativismo cético.
Diante disso, Husserl persegue as condições que possibilitam ciência ou teoria em geral. Distingue dois campos da lógica pura: de um lado, a lógica das categorias de significação (como conceito, proposição, conclusão, etc.) e, de outro, a lógica das categorias objetivas (como objeto, conteúdo, unidade, pluralidade, relação, etc.).
O SISTEMA LÓGICO APOFÂNTICO E A LÓGICA FORMAL
Dentro dessa esfera de essências ideais, distingue, mais uma vez, entre um sistema de categorias semióticas e outro sistema objetivo para o qual o primeiro indica. Entre ambos existe uma correlação. Mais tarde, designou esses dois sistemas com os termos de lógica apofântica e lógica formal ou ontologia formal e teoria formal dos objetos.
No segundo volume das Investigações lógicas, com o subtítulo Investigações sobre fenomenologia e teoria do conhecimento, desenvolve, programaticamente, pela primeira vez, o método fenomenológico.
Elabora esse tema, de maneira mais clara, na obra publicada em 1913, Ideias para uma fenomenologia pura e uma filosofia fenomenológica. Nas Investigações Lógicas aparece indicado, de modo ainda impreciso, o aspecto do noemático. Por nome Husserl entende o conteúdo temático do conhecimento em oposição à noese como o próprio ato da vivência, que tem o nome como objeto.
Assim, Husserl nega que as leis lógicas, sustentáculos da unidade de toda ciência, possam ser fundamentadas na psicologia, ciência empírica.
Com isso o psicologismo não consegue resolver o problema fundamental da teoria do conhecimento, ou seja, o problema de como é possível alcançar objetividade. Coloca a questão nos seguintes termos: como é possível que o sujeito cognoscente alcance, com certeza e evidência, uma realidade que lhe é exterior?
A noese são os atos pelos quais a consciência visa um certo objeto de uma certa maneira, e o conteúdo ou significado desses objetos visados é o noema. No nível transcendental, as noeses são os atos do sujeito constituinte que criam os noemas enquanto puras idealidades ou significações.
As noeses empíricas são passivas, porque visam uma significação preexistente; a noese transcendental é ativa, porque constitui as próprias significações ideais.
Para Husserl, a fenomenologia é o acabamento da tentativa de Descartes de fundamentar todo o conhecimento na certeza reflexiva do ego cogito e de suas cogitationes.
A reflexão fenomenológica parte da correlação de cada cogito com seu cogitatum, que nunca é um objeto isolado, mas desde logo deve ser concebido como objeto em seu mundo. Nas Conferências de Paris, Husserl afirma que tudo que é mundano, tudo que é espácio-temporal é para mim, na medida em que o vivencio, percebo, lembro, penso, julgo, valorizo, desejo, etc.
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Forte abraço e até o próximo conteúdo.
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SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP e Filosofia pela Universidade Dom Bosco. Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios. Pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups). Sócio fundador da Agência Black Beans e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis ambos em Portugal. Atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”. Em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.