A ESCOLA E OS DESAFIOS QUE VIVEMOS ATUALMENTE

Falar em mudanças no mundo em que vivemos hoje seria extremamente redundante. Assim como dizia o filósofo Heráclito de Éfeso, “A única constante é a mudança”, porém até o filósofo ficaria surpreso com a mudança radical que vivemos atualmente.

Praticamente tudo mudou, fomos forçados a alterar a nossa forma de trabalhar, estudar, nos relacionar com família, filhos e amigos. Estamos sendo forjados para uma nova realidade, mas como somos agentes históricos, ainda não percebemos o quanto mudamos.

Recentemente, partindo da minha experiência como Empreendedor, Teólogo e Psicanalista, escrevi um livro sobre as mudanças que estamos sofrendo como seres humanos e humanidade. O resumo desta obra você encontra no artigo “Do Caos ao Recomeço”.

Quando falamos de mudanças no mundo atual, tenho dificuldade em encontrar local, segmento e relação que mais tenha mudado do que na escola. Mudança de espaço, do físico para o digital, percepção de valor, uma das profissões mais percebidas e valorizadas pela família tem sido o trabalho do professor. Mas afinal, como tem sido esta transformação?

A ESCOLA E O CAOS

O Caos não é a ausência de ordem, mas sim uma organização que em muitos momentos não pode ainda ser compreendida. O pequeno jardim que temos em casa ou encontramos na rua resume um enorme caos de vida querendo sobreviver, porém achamos a natureza bela e perfeita.

Em uma virada de chave, milhões de alunos precisaram começar a assistir aulas no digital sem que eles e os professores tivessem sido treinados e educados para isso. O susto foi inevitável. Em um primeiro momento, nada estava pronto, porém há muitos anos existia exatamente para que fosse utilizado.

Quero dizer que toda a tecnologia necessária para aulas on-line, interações, dinâmicas e exposições já existia há anos. Professores, escolas e alunos ignoravam a possibilidade de utilização deste meio.

Claro que a interação professor, aluno e grupo jamais poderá ser substituída pelo modelo presencial. Afinal, somos seres de conexão e precisamos do outro para nosso desenvolvimento. Mas não podemos ignorar que parte do que fazemos no presencial poderia ser feito on-line sem perdas.

Passados os primeiros impactos, muitas escolas, professores e alunos começaram a interagir de maneira consistente no digital e mesmo na rede pública, sempre a mais atrasada em termos tecnológicos começou a retomar as aulas.

Longe de estarmos perto do que precisamos, uma vez que não adianta uma instituição disponibilizar conteúdo on-line se seus alunos não têm acesso a internet.

A ELABORAÇÃO

Na psicanálise, dizemos que todo aquele que passa por um processo de consciência do trauma, dor ou perda inicia uma fase importante da terapia chamada de elaboração. Este é o momento em que o indivíduo, sai da sua posição de vítima e começa a protagonizar sua reconstrução ganhando força para a fase seguinte que é o recomeço.

Neste momento, a educação passa por seu tempo de elaborar o que aconteceu, validar as experiências que foram postas em prática a toque de caixa e começar a entender realmente o que faz ou não sentido.

Tenho dois filhos em idade escolar, um deles tem 11 anos e o outro 13 anos. Estudam na rede particular e apenas por isso já estão inseridos no contexto de acesso. Logo no início da pandemia, a escola em duas semanas depois de estar fechada retomou as aulas no sistema on-line.

Na escola os professores das áreas de Ciências e Geografia, souberam aproveitar o digital e incrementaram suas aulas com acesso à materiais fartamente disponíveis na rede. Aulas de Matemática foram complicadas, como checar os exercícios e realmente se os alunos estão praticando?

Português e Inglês tiveram desempenho satisfatório, alterando aulas incríveis com suportáveis. Artes e Atividades Físicas foram deprimentes e motivo constante de piadas dos meus filhos.

Mas jamais podemos deixar de compreender o enorme avanço que tivemos no uso da tecnologia nas aulas e na interação, bem como a criação de valor utilizando novos meios. Por um lado, toda a tecnologia já existia, mas não era utilizada por outro, a escola e os professores precisavam dar um salto quântico e boa parte das instituições e professores ficaram perdidos neste processo, pois nem eles nem os alunos foram preparados para esta mudança.

O RECOMEÇO PARA A ESCOLA

Existe uma enorme oportunidade diante dos nossos olhos. Fazer deste momento que vivemos uma nova experiência no aprendizado e na troca entre professor e aluno. Percebo que a nossa maior dificuldade é fornecer adequadamente o suporte que os professores precisam para poderem criar entregas aos alunos.

Para os alunos, precisamos que o sistema público de escola forneça condições para eles estudarem, seja quanto a recursos físicos bem como acesso à internet. O mesmo na rede pública se faz necessário aos professores.

Suporte pedagógico a estes professores, suporte emocional e treinamento constante na utilização destes recursos. Não acredito no modelo digital como o modelo definitivo.

Recentemente, para uma das minhas empresas escrevi minha visão sobre este tema, acredito que o modelo que iremos ter como determinante é o modelo fisital. Você pode ler sobre o assunto no artigo “Físico ou digital? O novo normal é fisital”.

Neste modelo, utilizamos o melhor dos dois mundos, no digital utilizando o melhor destas ferramentas elevando o nível de entrega e conectando a conteúdo. Mas jamais esquecendo o físico como muito além de uma questão educacional, mas uma necessidade nossa como seres humanos.

Somos seres de conexão precisamos disso. O professor tem papel fundamental na construção e na formação da sociedade. Estarmos em relação gera conforto, troca de conhecimento e fortalecimento das nossas relações.

Uma das vertentes que acredito ser uma incrível experiência de agregação na escola entre professor e aluno é a interação pelo digital dos “Encontros Literários”. Neste momento, as reflexões em relação ao livro, devem fugir por completo da leitura, mas sim das percepções do autor contextualizando o aprendizado e conectando a vida.

Tenho desenvolvido a mais de 10 anos este trabalho e contextualizo isso no artigo “Mentoria e reflexões: a busca do autoconhecimento por meio de livros”.  

Concluindo minha pesquisa e reflexão, acredito que seja possível desenvolvermos uma nova forma de educar bebendo dos dois mundos. O conhecimento inerente à pessoa humana, mas conectando as possibilidades existentes no virtual. 

SOBRE O AUTOR

Benício Filho

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.

Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).

Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.

Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.