Certa vez, caminhando pelas ruas de um vilarejo na Espanha, fui surpreendido com uma notável garrafa de vinho da região de Rioja, 100% composta pela uva Tempranillo. Bem, minha surpresa não foi a uva ou o vinho em si, mas sim que se tratava de uma garrafa com mais de 20 anos de envelhecimento, por um preço muito acessível.
Naquele momento, veio à minha mente o desafio que eu tinha no Brasil em comprar um bom vinho por um preço que não fosse ultrajante. Tal situação aconteceria novamente em outros vilarejos na Espanha, muitas vezes na Itália e constantemente em Portugal.
Afinal, por que podemos consumir um vinho local na Europa com valor acessível e no Brasil é quase impossível consumir um vinho nacional com preço interessante ou mesmo com farta distribuição em nosso território?
Em um primeiro momento, acredito que assim como eu, você deve ter começado a ler este artigo e já construído as mesmas respostas que quase todos nós temos para a questão acima, mencionada por mim. Oras é o custo ou nossa carga tributária, e assim, impossível ser paga e responsável pelos preços exorbitantes que pagamos em tudo.
Caro amigo, este artigo aqui se trata de inovação e não de tributos. A resposta para a questão apresentada vai muito além das taxas e impostos. Quero junto com você fazer uma reflexão sobre a questão do vinho e sua história no movimento e inovação.
Podemos pensar na produção de vinho sobre diferentes aspectos, mas me atentarei aqui a questão ligada apenas a sua capacidade de inovação.
Em muitos pontos, o vinho está ligado a origem de diversas culturas, mas mais ainda a sua capacidade de agregação. É ao redor de uma mesa com uma garrafa de vinho que muitas famílias e amigos sentam a centenas de anos para conversar, socializar e contar experiências da vida.
UMA GARRAFA DE VINHO CARREGA A INOVAÇÃO DE GERAÇÕES
Na Europa, a capacidade do vinho em ser este canal agregador passou de gerações a gerações, em diversos países. Um português por exemplo, consome 72 garrafas de vinhos anualmente, um espanhol 66 e um italiano 64. Se formos analisar apenas por este prisma, no Brasil consumimos uma média de 2 garrafas por habitante. Bem, temos diversas razões para ser diferentes dos europeus em matéria de consumo de vinho, mas minha reflexão parte da mesma origem étnica e cultural que temos.
Ao longo dos anos, produtores de vinhos da Europa, mesmo pressionados pela produção em escala, entenderam que seu principal ativo de diferenciação seria sua exclusividade histórica e sua capacidade de produzir algo que passasse às gerações futuras todo o contexto cultural.
O poder do contexto é intrínseco à capacidade inovativa. O valor percebido por quem consome precisa ser algo não explicado, mas sim vivenciado.
É comum procurarmos na Europa um vinho por seu nome, região ou mesmo composição da uva. Só em Portugal, um país menor que o estado de Pernambuco, no Brasil, temos mais de seis mil produtores de vinhos, mais que o dobro do Brasil inteiro.
Quando nos debruçamos sobre o porquê não conseguimos consumir um vinho brasileiro em muitos lugares do nosso país e por outro lado, em qualquer canto tem um vinho chileno, a questão é muito mais profunda do que impostos.
A produção de vinhos no Brasil quase sempre esteve relacionada a região sul do país. Inclusive, seu consumo também sempre foi mais popular por lá do que em outras regiões.
Com o passar dos anos e o melhor conhecimento da bebida por nosso país, outras regiões se tornaram grandes consumidoras, como a região sudeste e até mesmo a região nordeste, que começou a produzir excelentes vinhos no vale do São Francisco, e a difundir o seu consumo, principalmente dos espumantes e frisantes. O que fica evidente para mim é que temos mais propensão em consumir um vinho importado do que os vinhos nacionais.
E quando falamos sobre o sucesso do consumo dos vinhos europeus, percebemos que toda a raiz histórica dos produtores e ainda a relação da bebida com o convívio e relacionamentos sociais, aprofundam o contato com a bebida e sua apreciação. Podemos aprender muito com os europeus em relação ao consumo desta bebida.
Recuperar a história dos produtores nacionais é um dos caminhos, porém, o que mais impressiona quando comparamos os dois mundos, brasileiro e europeu, é que ainda temos que fortalecer aquele pequeno produtor. Não digo com isenções de impostos ou outros pontos burocráticos, mas sim empoderar este produtor do potencial que ele tem, em relação ao que vende.
Leia também: O que podemos aprender com inovação aberta?
Inovação não se resume a novos processos ou novas formas de resolver algum problema. No relacionamento do ser humano com os vinhos, podemos aprender muito como um produto pode permanecer centenas de anos em evidência, sem perder sua relação de importância, mesmo em tempos em que o consumo do álcool anda em baixa.
O Vinho sempre representou saúde e alegria. Juntamente com a inovação, eles podem muito bem nos ajudar a compreender como construir negócios que, ao longo do tempo, sejam ainda mais importantes do que em seu início.
A Europa nos ensina como a valorização dos pequenos produtores agregam valor a cadeia de consumo, fortalecem a permanência de muitas famílias no campo e ainda garantem um tipo de agricultura muito saudável ao mundo.
Conhecer as diversas regiões vinícolas da Europa nos ensina muito sobre o mundo, bastante sobre a história do continente e mais ainda sobre os relacionamentos humanos moldados e construídos ao redor de um bom vinho.
Lembre-se sempre, um bom vinho é aquele que você gosta. Charles Chaplin dizia que um dia sem sorrir seria como um dia sem vida, bem podemos parafrasear o mestre dizendo que uma semana sem uma boa taça de vinho seria como uma semana não vivida!
SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.
Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).
Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.
Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.