Pensar e estudar Heidegger e não refletir sobre o período do Nazismo será no mínimo perigoso. Mas também não reconhecer sua obra apenas porque de alguma maneira ele esteve muito próximo aos nazistas é destruir um dos maiores pensadores do nosso tempo.
Conceitualmente, Heidegger afirma que o homem é sempre um ser-no-mundo, ou seja, um ser-em-situação. Porém, que ele não está preso à situação em que se encontra, mas sim, sempre aberto para tornar-se algo novo.
Caminhando por este conceito que é um dos pilares do pensamento de Heidegger, já podemos dizer que existe nele uma proximidade aos ideais nazistas.
Acredite, porém, que assim como Heidegger, outros filósofos da sua época pensavam o ser humano em sua totalidade.
Um dos mestres de Heidegger, Husserl procurava resolver o problema de como justificar filosoficamente a existência de um mundo objetivo e comum. Ele faz a ligação entre a consciência e o mundo objetivo por meio da ideia de intersubjetividade. A experiência imediata por meio dos atos de consciência.
Claro, que não poderia ser Husserl uma das inspirações nazistas, afinal ele era judeu, mas a linha de Heidegger trilhava os mesmos percursos do seu mestre ampliando sua tentativa de compreender o ser humano e sua existência.
Em sua obra central, “Ser e Tempo” (em alemão: Sein und Zeit) que foi o maior e mais influente trabalho de Martin Heidegger, publicado em 1927. Teve como principal propósito a elaboração concreta sobre a questão do sentido do ser e, como também o ser do sentido, em caracteres ontológicos.
O PENSAMENTO DE HEIDEGGER E A ASCENSÃO DO NAZISMO
Assim, dizer que o pensamento de Heidegger tem ligação direta com a ascensão nazista seria por nós, leviano. Mas, em contrapartida, dizer que tal pensamento não influenciou os nazistas, por outro lado, seria inocência.
Os ideais libertadores de Heidegger sobre o ser humano colocando a existência como o propósito em si e libertando-o dos dogmas religiosos e dos pensamentos sem sentido também são de alguma forma combustível para os nazistas dentro da sua leitura de mundo.
Heidegger em “Ser e Tempo” reorientou a visão contemporânea sobre o problema do ser ao propor que a pergunta pelo ser só pode ser colocada por dasein (o “ser-aí”) ou o homem que existe no mundo. É a investigação sobre essa pergunta que evidencia o caráter existencialista de seu pensamento.
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HEIDEGGER PODE SER RESPONSÁVEL PELA JUSTIFICAÇÃO FILOSOFICA NAZISTA?
Em sua Cabana da Floresta Negra, assim como em seu período como reitor da universidade de Friburgo, Heidegger esteve à frente tanto da sua construção filosófica como foi um dos pilares do pensamento de sua época.
Não poderia ser diferente imaginar que ele teve influência no pensamento nazista. Sua participação também como partidário do regime não contribui para reduzir esta imagem.
Mas não acredito ser possível atribuir apenas a ele a força dos ideais nazistas.
Alguns judeus, criticaram o posicionamento de Heidegger, inclusive seu mestre Husserl. Mas Hannah Arendt, após um encontro pessoal com ela, fez uma defesa incessante para seus pensamentos.
Hannah Arendt em sua obra, “Banalidade do mal” afirma que é o fenômeno da recusa do caráter humano do homem, alicerçado na negativa da reflexão e na tendência em não assumir a iniciativa própria de seus atos propiciou o que vimos no holocausto.
Alguém como ela com visão e obra próximo dos acontecimentos teria dificuldade em ser iludida pela possível participação de Heidegger diretamente no regime nazista.
Tendo a acreditar por essa e tantas outras evidências que Heidegger teve sim sua obra utilizada nos conceitos nascentes do nazismo. Mas afirmar que ele em pessoa contribuiu ou construiu sua obra para este fim seria de muita leviandade.
Por fim, Sartre recuperou Heidegger com intensidade, reforçando seus pensamentos e auxiliando com toda a sua obra a construir os pilares do existencialismo.
É inegável as contribuições de Heidegger para nosso tempo. Assim, como tantos outros filósofos, talvez sua proximidade com os nazistas tenha ofuscado em parte sua obra, mas nunca poderemos deixar de compreender a relevância de tudo que ele fez.
SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.
Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).
Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.
Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.