O REINO MÍTICO DAS FAKE NEWS
Vivemos em uma grande bolha, mas essas não são as famosas bolhas das empresas de tecnologia. Vivemos na bolha das
fake news, é interessante pensar nela sobre o ponto de vista do mito.
É importante entendermos que o pensamento mitológico nasceu na Grécia antiga e era uma forma de perceber o mundo por meio dos mitos. No pensamento mítico temos um movimento em que a compreensão da origem do mundo, fenômenos naturais e origem dos povos é alicerçado na figura do mito.
O mito tem sua origem no termo grego
mythos, que significa um tipo bastante especial de discurso. Nesse discurso se caracteriza o fictício ou imaginário. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto ele não se presta ao questionamento ou a crítica ou ainda a correção.
Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado e a magia. As causas dos fenômenos naturais, aquilo que acontece aos homens, tudo é governado por uma realidade exterior ao mundo humano e natural. É algo superior, misterioso ou divino.
O MITO DA FAKE NEWS
Assim como o pensamento mitológico, as
fake news têm sua criação dentro da mesma lógica. A partir de um fenômeno quase sempre criado por meio do imaginário, explica-se de forma sobrenatural aquilo que é impossível se explicar no mundo real.
As
fake news se tornam verdade, assim como os mitos eram considerados formas reais de entender o mundo por meio de propagadores impulsionados pelo movimento e fluxo digital que vivemos atualmente.
As bolhas que constroem as
fake news, assim como os povos da antiga Grécia, nascem de pequenos grupos fundamentalistas. Fundamentalista é todo aquele que acredita cegamente em uma verdade que apenas para aquele grupo é relevante.
Tais grupos, criam “verdades” e as propagam utilizando os mais diversos recursos e influenciam milhões. Mas caro leitor, não se engane. Por trás de tais “verdades” propagados pelas
fake news, existem muitos interesses que nem sempre estão muito claros para todos.
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Alguns grupos que propagam
fake news têm interesses muito claros, divulgam intensamente suas doutrinas, visões de mundo ou ainda valores morais que apenas para eles fazem sentido.
Nesse movimento, podemos considerar como falsas notícias as tais informações propagadas que não se apoiam em uma realidade científica ou com embasamento coerente. Eles apenas propagam por serem fundamentalistas em suas convicções.
Em um outro movimento, a divulgação das notícias falsas tem um objetivo claro, gerar retorno financeiro justamente se aproveitando da matemática do jogo.
Uma
fake news em alguns casos pode gerar até dez vezes mais retorno financeiro a um anunciante do que uma notícia verdadeira.
Um dos exemplos mais interessantes da ação das
fake news em nosso dia a dia se dá quando navegamos em alguns portais famosos na internet. Em muitos momentos somos apresentados à links, banners ou ainda informações sobre medicamentos, tratamentos ou ainda procedimentos milagrosos.
Essa veiculação de propagandas consegue devido a sua relevância aferida pelos algoritmos das redes sociais e dos buscadores uma alta nota de aferição. A partir desta nota, seu ranqueamento é elevado sendo entregue a mais e mais pessoas.
Em uma lógica nefasta, produzir notícias falsas rende mais dinheiro do que produzir conhecimento verdadeiro. As redes sociais e buscadores que apenas querem lucro acabam ofertando tais informações como “verdades”, ampliando assim o reino mítico e criando uma sociedade cada dia mais doente e dependente.
A ÚNICA ARMA CONTRA A FAKE NEWS É A EDUCAÇÃO
Sim, as redes sociais e os buscadores não são confiáveis. Talvez essa seja uma percepção antiga, mas que a cada dia se torna mais real à medida que percebemos a lógica de lucro do sistema imposta por elas.
Não é a qualidade da informação que está em jogo, mas sim a sua capacidade de gerar visualizações e rentabilidade.
Quebrar este ciclo apenas depende de cada um de nós e talvez por isso se torne tão complicado mudar a realidade que vivemos. Para uma mudança se tornar realidade depende individualmente da ação de cada um. Temos diante de nós um desafio quase inatingível.
O que está em questão é a mudança das regras do jogo. Ou é quebrado o monopólio da “verdade” imposta pelas redes sociais e pelos buscadores, ou estamos diante de uma bolha em que boa parte da humanidade entrou no lugar podemos chamar do verdadeiro reino mítico.
Da cloroquina para o Covid ou das plantas quase desconhecidas que curam câncer, somos impactados dia a dia por essas informações que apenas geram riqueza para a indústria e escravizam todos aqueles que acreditam nesses veículos como propagadores da verdade.
A informação nos eleva acima destes mitos, mas apenas uma verdadeira transformação do sistema poderá alterar radicalmente este cenário.
SOBRE O AUTOR
Benício Filho
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.
Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).
Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.
Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.