Heidegger, Gadamer, Derrida. Estes pensadores transformaram a visão e a compreensão que temos dos textos.
Deles, partiram boa parte dos ensinamentos que hoje nos possibilitam ir além no entendimento de determinado contexto.
Percorrer questões por eles elucidadas e aprofundadas construíram uma visão bastante ampla do que precisamos entender sobre hermenêutica.
HEIDEGGER E A INTERPRETAÇÃO
A interpretação se realiza a partir de algo dado anteriormente, uma pressuposição que se projeta na abertura para ser reelaborada.
Assim, faz da estrutura de antecipação da compreensão a condição de possibilidade para o compreender, e a denomina como pré-compreensão.
Para ele, a interpretação é sempre algo previamente compreendido. Logo, Heidegger explicita as três estruturas prévias da compreensão, e diz:
“A interpretação de algo como algo se funda essencialmente por ter-prévio, ver-prévio e conceito-prévio. A interpretação nunca é uma apreensão sem-pressupostos de algo previamente dado.“
Tal ato de compreensão implica o próprio ser que conhece no conhecimento da coisa, dizendo respeito à experiência que está em jogo no movimento da compreensão. A compreensão altera o ser que compreende: “A metafísica é uma interrogação na qual nos inserimos de modo questionador na totalidade e perguntamos de uma tal maneira que, na questão, nós mesmos, os questionadores, somos colocados em questão.”
O ser que questiona algo, questiona também a si próprio. O desvelamento do ser do ente ocorre através da própria experiência do compreender em sua finitude e historicidade.
Para Heidegger, a temporalidade e a historicidade são constituintes, dado que a essência é movente, é temporal. A pretensão de subtrair a temporalidade e a finitude da linguagem é ingenuidade, ilusão.
A HERMENÊUTICA DA DESCONSTRUÇÃO HEIDEGGERIANA
No pensamento de Heidegger, destruição não tem o sentido negativo de demolição, como, por exemplo, se demole uma casa. Destruir quer dizer desconstruir, mas desconstruir no sentido de remover, entendendo-se remover, portanto, enquanto “suspensão”.
Remove-se aquilo que impede que algo apareça. Este procedimento diz respeito ao “método” fenomenológico. Heidegger utiliza o “método” para pôr entre parênteses os empecilhos ao pensamento acerca da essência mesma do ser mostrada, equivocadamente, pela tradição filosófica.
Segundo ele, esta tradição teve início nas experiências originárias da filosofia grega que se inicia com os filósofos pré-socráticos, passando pela sofística e chegando de forma renovada em Platão e Aristóteles e se estendendo a todo pensamento ocidental moderno/contemporâneo.
Pode-se afirmar que Heidegger, caminha com a crítica à história da filosofia, pois ela sempre acompanha esse pensador em sua tarefa destrutiva do pensamento ocidental.
Portanto, a destruição dirige-se até mesmo às fronteiras da filosofia grega para mostrar como esta fez emergir a questão do ser que se caminha por toda história da metafísica.
No entanto, é importante salientar que na crítica fenomenológica desenvolvida por Heidegger, a destruição não tem o significado de eliminação, e sim de suspensão de toda a história do pensamento ocidental que desenvolve a questão do ser esquecida da sua própria verdade.
Entende-se, neste caso, que a verdade do ser, impedida de aparecer por força do esquecimento, seja a essência do tempo da temporalidade humana, mostrado de forma velada através da filosofia moderna como herdeira da tradição do pensamento grego.
Em favor da destruição, Heidegger faz o movimento de volta à filosofia grega. Inicia a destruição dos filósofos modernos para acusar, sobretudo, as filosofias de Descartes e Kant, mostrando o quanto estes filósofos contribuem para o esquecimento do ser por não o interpretar problematizando a questão do tempo.
Eles se movem no tempo, “esquecidos” deste movimento; por isso, trocam o ser pelo ente. No movimento da troca do ser pelo ente, Heidegger confirma o fortalecimento do pensamento metafísico e faz deste o motivo maior de toda sua crítica destrutiva.
GADAMER E A ESPECIFICIDADE EPISTEMOLÓGICA
Gadamer é considerado um intelectual de pensamentos amplos; a ideia central dos seus escritos é que todo entendimento ou ato de compreensão se processa essencialmente a partir do diálogo e que é mediante o estudo aprofundado sobre a realidade que adquirimos conhecimento, sendo que sua aplicabilidade prática, a práxis, ocorre por processo histórico experiencial.
O filósofo não se preocupa em questionar quais são as condições de possibilidade do conhecimento, não está preocupado em determinar qual o método que se vai seguir para se chegar ao conhecimento. Importa perguntar o que acontece quando se compreende algo, pois este acontecimento do ato de compreender já se coloca como um evento de determinação da verdade.
A proposta filosófica gadameriana não se constituiu na destruição da validade do método científico, mas em justificar que, ao filosofar, é mais própria a arte de dialogar que a técnica de dissecar temas e problemas.
Na década de 1960, publica sua obra-prima Verdade e Método – Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica, na qual consolida sua crítica à experiência da procura da verdade e da determinação do método como critério científico. Suas ideias se apresentam em três momentos:
(1) a experiência da arte como o caminho e o modo de ser da hermenêutica;
(2) a compreensão como categoria basilar das discussões das ciências históricas do espírito, momento em que Gadamer analisa a hermenêutica sob a ótica de Schleiermacher, que a conceituou como disciplina auxiliar subordinada a dialética, do historicismo e consciência histórica de Dilthey e da fenomenologia de Husserl e Heidegger, os quais introduzem a diretriz da hermenêutica da facticidade; e
(3) o desenvolvimento da filosofia da linguagem como experiência humana no trilhar dos caminhos da construção do pensamento
A LINGUAGEM E GADAMER
O hermenêutico não significa interpretar, mas trazer a mensagem à interpretação. No âmbito da hermenêutica heideggeriana, o hermenêutico não representa uma doutrina de acesso à interpretação, mas o próprio movimento do interpretar, o próprio aceno da linguagem.
A tradição é para Gadamer um elemento fundamental para a construção de sua hermenêutica filosófica, pois: “A tradição é essencialmente conservação e como tal sempre está atuante nas mudanças históricas” ou, em outras palavras, que a tradição é histórica e, consequentemente, sujeita às mudanças da história e do tempo e o próprio aceno da linguagem.
DERRIDA E A VALORIZAÇÃO DO CONCEITO DA ESCRITURA
A partir do conceito de escrita como um sistema de traços, Derrida desenvolve uma crítica à metafísica da presença e a suposta ligação entre linguagem fonética e logocentrismo. As questões que envolvem o movimento de desconstrução levam Derrida ao encontro com o discurso da psicanálise.
Derrida afirma que a desconstrução não é uma análise, uma crítica ou um método no sentido tradicional em que a filosofia entende esses termos. Nessas descrições negativas da desconstrução, Derrida procura “multiplicar os indicadores de advertência e deixar de lado todos os conceitos filosóficos tradicionais”.
Recuperando ideias de Jacques Derrida, acentua que, para esse filósofo, “nada existe em si mesmo, “enquanto tal”, como um átomo indivisível anterior às referências que possam ser feitas a ele”.
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Forte abraço e até o próximo conteúdo.
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SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP e Filosofia pela Universidade Dom Bosco. Mestre pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação, MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios. Pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, sócio da Core Angels Atlantic (Fundo de Investimento Internacional para Startups). Sócio fundador da Agência Black Beans e sócio fundador da Atlantic Hub e do Conexão Europa Imóveis ambos em Portugal. Atua como empresário, escritor e pesquisador das áreas de empreendedorismo, mentoring, liderança, inovação e internacionalização. Em dezembro de 2019, lançou o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas”. Em dezembro de 2020 seu segundo “Do Caos ao Recomeço”, e em janeiro de 2022 o último publicado “ Metamorfose Empreendedora”.