AS ORIGENS DA DISTINÇÃO ENTRE SINAL, SENTIDO E REFERÊNCIA EM FREGE

Ao tentar demonstrar o projeto logicista, a saber, provar que os teoremas da aritmética são calcados em axiomas, regras e definições puramente lógicos e, por conseguinte, nenhuma demonstração de fórmulas matemáticas faz apelo às intuições, Frege se deparou com as ambiguidades e inconsistências da linguagem natural e, por isso, desenvolveu um método de prova que fosse incontestável do ponto de vista lógico. 

Este método de prova dependeria de uma notação conceitual, uma linguagem simbólica científica, que garantisse as demonstrações dos teoremas da aritmética sem nenhum tipo de imprecisão.

Foi com este objetivo que Frege desenvolveu a sua notação conceitual e a apresentou no livro “Conceitografia: uma linguagem formular do pensamento puro decalcada sobre a aritmética”. 

Frege não considerava a sua notação conceitual somente um sistema lógico, mas um instrumento de purificação da linguagem ordinária, pois o caráter lógico que integra as proposições e suas relações lógicas não é expresso com clareza pela linguagem natural, visto que esta é inapta para expressar com precisão as inferências lógicas. 

Em contrapartida, a notação conceitual expressa todos os componentes lógicos relevantes de uma proposição, bem como se mostra precisa como método de prova, porque preserva a dedutibilidade das proposições conservando a verdade. 

Sendo assim, a notação conceitual é uma linguagem bem constituída cujos preceitos e princípios são explicitamente enunciados e a sua estrutura formal mantêm a cadeia de inferências livre de toda lacuna e intuições. 

DIANTE DO PROBLEMA, SURGE A DISTINÇÃO ENTRE SINAL, SENTIDO E REFERÊNCIA. 

Frege resolve o quebra-cabeça da identidade abandonando a noção de conteúdo conceitual da Conceitografia e dividindo-a em Sentido e Referência. No caso, o do conteúdo conceitual de sentenças assertivas passou a ser o sentido do sinal linguístico e a noção de conteúdo conceitual de termos singulares tornou-se a referência do sinal linguístico. 

Deste modo, o Sentido de uma sentença assertiva é o pensamento expresso por ela e a Referência é o seu valor de verdade. 

Frege entende por pensamento não o ato subjetivo de pensar, mas seu conteúdo objetivo que pode ser a propriedade comum de muitos pensadores. 

No caso da Referência Frege considera útil para o uso científico adotar os objetos lógicos o Falso ou o Verdadeiro, assim todas as sentenças falsas têm como referente o Falso e todas as sentenças verdadeiras têm como referente o Verdadeiro. 

Para distinguir entre o Sentido e a Referência das sentenças assertivas, Frege faz uso de dois argumentos de base intuitiva. 

Primeiro, duas sentenças assertivas que são objeto de crença de algum indivíduo podem de fato serem co-referenciais, contudo pela diferença de Sentido, uma pode ser considerada verdadeira e a outra falsa por este indivíduo. 

Este caso, segundo Frege, ocorre quando uma pessoa desavisada acredita que “A estrela da manhã é o planeta Vênus”, mas não acredita que “A estrela da tarde é o planeta Vênus”, percebe-se assim que as duas sentenças, apesar de terem o mesmo referente, no caso o valor de verdade o Verdadeiro, expressam sentidos diferentes, gerando o engano citado. 

Segundo, se a sentença “Ulisses, profundamente adormecido, foi desembarcado em Ítaca” refere-se a um indivíduo histórico então a sentença tem um Sentido e uma Referência, por consequência, um valor de verdade, mas se “Ulisses” é apenas um personagem fictício, a sentença tem apenas um Sentido e não possui uma Referência. 

Nesse caso, evidencia-se a independência do Sentido em relação a Referência porque como Frege nos diz: “compreender um sentido nunca assegura sua referência”.

Assim, a noção de conteúdo conceitual é uma noção semântica híbrida e acarreta no problema conhecido como quebra-cabeça da identidade. Cabe argumentar que Frege soluciona o quebra-cabeça da identidade no artigo Sobre o Sentido e a Referência abandonando a noção de conteúdo conceitual e assumindo a distinção semântica entre Sinal, Sentido e a Referência.

Desta forma, Frege marca a história da filosofia e inaugura as discussões na filosofia da linguagem contemporânea com a distinção em Sentido e Referência. De modo geral, todo sinal expressa um Sentido e o sentido nos faz conhecer a Referência, quando esta existir. 

Enfim, dado as circunstâncias apresentadas acima, esperamos ter mostrado que a origem das noções Sinal, Sentido e Referência em Frege está na tentativa de solucionar o quebra-cabeça da identidade que, por sua vez, é oriundo dos critérios de identidade de conteúdo conceitual presentes nos da Conceitografia.

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Forte abraço e até o próximo conteúdo. 

Leia também: A FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO COMO RESPOSTA A TEORIA DA DEPENDÊNCIA

SOBRE O AUTOR

BENÍCIO FILHO

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente também está concluindo o curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.

Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador dá Palestras & Conteúdo, Sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio fundador da Agência Incandescente, sócio fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal), atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio), além de participar de programas de aceleração como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.

Palestrando desde 2016 sobre temas como Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência, já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.