UMA VIAGEM À ITÁLIA SUBTERRÂNEA

Foram muitas as viagens à Itália sem que realmente eu conhecesse a Itália que não se pode ver vista por cima. Roma em especial sempre esteve presente em minha vida.

Às vezes tenho a impressão de que ao caminhar pelas ruas romanas, percorro memórias de minha vida. A maior surpresa aconteceu ao visitar em uma viagem com um grupo de estudantes uma das muitas catacumbas romanas.

As catacumbas são túneis subterrâneos que foram utilizados durante vários séculos como locais de sepultamento. Essas incríveis obras, apresentam uma Itália subterrânea que ao longo dos séculos foi praticamente esquecida.

As construções começaram a ser feitas a partir do século II e foram concluídas no século V, para abrigar os corpos dos pagãos, judeus e cristãos primitivos. A palavra “catacumba”, que significa “perto do vazio”, vem do fato de que as primeiras escavações para os enterros foram realizadas fora do núcleo da cidade, perto do terreno de uma pedreira.

HÁ HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA SE CONFUNDE COM NOSSA HISTÓRIA

Quando adentramos a primeira vez nesta Itália subterrânea, confesso que fiquei muito surpreso. Primeiro por começar a entender que realmente esses locais tiveram seu início justamente porque a Igreja era perseguida e uma das formas de continuar se reunindo eram nos túneis que proporcionaram um bom esconderijo e um local para enterrar sem profanação os mortos que se acumulavam.

Ao estudar outros locais onde era possível conhecer essa Itália subterrânea comecei a analisar os diversos símbolos que marcavam cada uma das sepulturas.

Percebi que além da diversidade de símbolos que adornavam ou identificavam os túmulos, havia muitos deles que não eram cristãos. Isso comprova como a igreja primitiva tinha uma forte influência de outras culturas.

O SURGIMENTO DE SANTUÁRIOS NA ITÁLIA SUBTERRÂNEA

Inicialmente nascidos como locais de sepultamento, os túneis se tornaram santuários dos mártires e centros de peregrinação para os cristãos de todas as partes do Império Romano.

Hoje, essas longas passagens subterrâneas são muito populares porque possuem ricas de esculturas, afrescos e inscrições. O que representa o testemunho dos costumes e tradições da igreja primitiva.

As catacumbas em Roma são tantas, mas apenas cinco estão abertas ao público e são também as mais belas, as mais conhecidas e importantes para se visitar. Esses cemitérios estão quase todos na área de Appia Antica e da Ardeatina.

Nas catacumbas se desenvolveu, desde o final do século II, uma arte muito simples, em parte narrativa e/ou em parte simbólica. As pinturas, mosaicos, relevos dos sarcófagos e as artes menores evocam as histórias do Antigo e do Novo Testamento, numa forma de apresentar os exemplos de salvação do passado para novos convertidos.

A arte simbólica das catacumbas simplesmente expressa alguns conceitos que são difíceis de explicar. Por exemplo, para indicar o Cristo é retratado um peixe, para significar a paz do paraíso o símbolo é uma pomba, para expressar a firmeza da fé, uma âncora.

Tive a oportunidade de visitar as cinco que estão abertas para o público e quero apresentar a vocês um pouquinho de cada uma delas.

Leia também: ASSIS: A CIDADE MÍSTICA E CHEIA DE ESPIRITUALIDADE

CATACUMBAS DE SÃO CALISTO

Começamos a partir das Catacumbas de São Calisto, que são as mais famosas da cidade. Há casas que possuem túmulos de muitos mártires e dezesseis papas, sem citar os afrescos impressionantes da era cristã que estão representados.

A visita geralmente é realizada na Cripta dos Papas do século III, ou no local onde há a famosa cripta de Santa Cecília com os afrescos do século VII-VIII, os cinco cubículos dos Sacramentos que é adornado por afrescos importantes do século III e a cripta do Papa Eusébio do século IV.

Elas surgiram no final do século II e foram batizadas pelo diácono São Calisto, que no início do terceiro século, foi nomeado pelo Papa São Zeferino como administrador do cemitério. Quando Calisto se tornou Papa, ele aumentou o complexo funerário e assim, as catacumbas de São Calisto tornaram-se o cemitério oficial da Igreja de Roma.

Na visita a esta catacumba, recomendo levar boa quantidade de água e estar preparado para muitas curvas e abaixamentos. Apesar da dificuldade, vale a pena cada centímetro percorrido. São intensas as emoções e as sensações de estar mergulhando no passado.

Catacombe-di-San-Callisto-fonte-flick

CATACUMBAS DE SÃO SEBASTIÃO

Adentrando em uma catacumba da Itália subterrânea, encontramos as catacumbas de São Sebastião. São doze quilômetros de comprimento e ela leva o nome de São Sebastião, um soldado que foi martirizado por se converter ao cristianismo. Juntamente com as catacumbas de São Calisto, que são as melhores opções de visita.

Já utilizado como um local de sepultamento pagão, eles foram transformados em necrópole cristã perto do final do século II e foi dedicado aos Santos Pedro e Paulo.

A tradição conta que os restos mortais deles estavam escondidos lá, em uma “cella memoriae” (em latim significa ‘condenação da memória’, um tipo de urna) os restos dos dois santos. Só no século IV catacumbas ganharam o nome atual, que deriva do nome do santo que foi colocado lá após a morte.

CATACUMBAS DE DOMITILLA

Também vale a pena visitar são as Catacumbas de Domitilla, entre as maiores de Roma que compõem a grande da Itália subterrânea. Originárias de várias escavações no subsolo do terreno de Flaviano, o cemitério Domitilla leva o nome de um membro da Gens, se chamava Flávia Domitila.

Aqui você pode visitar a basílica construída no século IV, chamada de ‘Flaviana’ e parte da área do cemitério possui afrescos importantes dos séculos III e IV.

Ela é dividida em três níveis, com um total de cerca de 15 km. Entre os melhores trabalhos estão o nicho de Formai e a pintura na parede com a Nossa Senhora e o menino Jesus com os quatro magos.

Bakers e a pintura mural do Madonna e Criança com quatro Magi. São as maiores catacumbas, as mais antigas e impressionantes da cidade.

catacombedomitilla

CATACUMBAS DE MARCELINO E PEDRO

Então você chega às catacumbas de Marcelino e Pedro que não são tão famosas, apesar da beleza. Embora os encantos das pinturas estejam em primeiro lugar, acredita-se que a catacumba data do século III. C. e atingiu o seu apogeu no século IV, coincidindo com os cemitérios da cidade. Pedro era um exorcista e Marcelino um padre.

As catacumbas dos Santos Marcelino e Pedro são decoradas com cenas bíblicas e estão entre os maiores dos presentes de Roma. Honório I (625-38) construiu uma pequena basílica com um arco subterrâneo para acomodar o número crescente de fiéis, ele dobrou o número de escadas de acesso à Basílica e consagrou um altar acima dos dois nichos.

Catacombe-di-Marcellino-e-Pietro-Fonte

ITÁLIA: CATACUMBAS DE SANTA INÊS

Finalmente, visitamos as catacumbas de Santa Inês, que estão localizadas na Via Nomentana, no complexo monumental de Santa Inês Fora dos Muros no moderno quarteirão de Trieste.

O monumento é composto pela Basílica de Santa Inês Fora dos Muros e pelo Mausoléu de Santa Costanza, feito para abrigar os restos de Constantino, das filhas e da irmã dele, a Elena. O monumento foi construído em torno do ano 350.

Sob a Basílica e na área ao redor, estendem-se galerias com um vasto número de catacumbas, descobertas por acaso, em 1865. O que é certamente antes da colocação dos restos mortais do Santo, como evidenciado pelas numerosas inscrições encontradas. O cemitério está em três andares dividido em quatro áreas.

Adentrar as catacumbas romanas na Itália é mergulhar na história de uma Itália subterrânea ainda pouco explorada por nós. Cada passo percorrido nestes lugares apresentam uma incrível oportunidade de mergulho em nossa história, espiritualidade e contemplação.

SOBRE O AUTOR

Benício Filho

Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.

Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).

Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.

Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.

Construir conhecimento só é possível quando colocamos o aprendizado em prática. O mundo está cansado de teorias que não melhoram a vida das pessoas. Meus artigos são fruto do que vivo, prático e construo.