Estamos todos cansados de ouvir falar sobre modelo de liderança. Banalizamos o ato de liderar justamente porque é algo que pouco compreendemos. A crise de liderança que vivemos nas últimas décadas apenas reflete a perda de orientação pelo qual nós seres humanos vivemos.
Parece que foi ontem, quando nos meus quinze anos refletia sobre o que seria da minha vida. Filho de pai militar e funcionário público, era claro para eles que eu seguiria a carreira do emprego e trabalho tradicional.
Bem, contrariando tudo e a todos, já no segundo grau técnico em eletrônica, fui quase que arrebatado pelo movimento de tecnologia que se iniciava fortemente na minha geração e junto com dois outros amigos de sala, criamos o que seria a minha primeira empresa.
O empreender foi a resposta que eu consegui dar a minha verdade e propósito que pouco com a juventude que tinha conseguido compreender. Quando começamos a refletir sobre liderança, devemos sempre pensar neste termo em primeira pessoa.
Como eu lidero minha vida? Refleti em um artigo dias atrás sobre o que é imutável para mim.
Neste artigo, sugiro a tarefa de escrever em uma pedra o que é imutável em você. Se você nasceu homem como eu, sabemos bem como fomos forjados. O peso da nossa educação e cobrança gerou e continua gerando violência e agressividade justamente porque não entendemos o masculino.
FOMOS FORJADOS SEM ENTENDER O QUE É AFETIVIDADE E COMPAIXÃO
Em minha casa, cresci quase sem entender por que o homem deveria ser sempre muito rude e sério. Chorar jamais era permitido e via sempre nas lições do meu pai a certeza e convicção de alguém que nunca errava.
O peso deste fardo custou a ele duas doenças graves e quase a morte, sendo que temíamos ele como filhos muito mais do que o amávamos. Ele precisou passar pelo vale da morte para que mudasse e nós reconhecemos nele o amor paterno que até então era muito distante.
Ainda sobre a dureza deste modelo em que minha geração foi educada escrevi um artigo em que falo sobre ser temido ou ter autoridade. Leia o artigo “A sua liderança empresarial é algo respeitado ou temido?”.
Ao longo dos anos, fui entendendo que deveria ser mais do que havia aprendido em casa. Na verdade, era na liderança da minha mãe que repousava a sabedoria que faltava em mim e nos meus irmãos.
Foram anos de busca dessa sabedoria e de muita conversa com minha mãe e com as mulheres que faziam parte da minha vida que comecei a compreender o que era liderar a minha própria existência.
Elas além de educadas de forma diferente, não entenda isso como uma visão de que elas são educadas de forma correta. Muito pelo contrário, as mulheres sofrem muito mais que os homens. Um dos exemplos é o abismo de oportunidades em todos os segmentos que existem para homens e não existem para as mulheres.
Mas por sua própria natureza, elas têm em si a sabedoria que nós homens precisamos aprender para encontrar o melhor modelo de liderança.
PRECISAMOS APRENDER A SABEDORIA FEMININA COMO UM MODELO DE LIDERANÇA
A sabedoria feminina é algo que nós homens precisamos aprender e vou mais além do que isso, digo que um líder precisa viver a sabedoria do feminino caso contrário seu modelo de liderança está morto.
Escuta, acolhimento, compaixão e amorosidade são apenas algumas dimensões do feminino que tanto nós homens carecemos. Veja, longe das mulheres serem perfeitas, afinal, todos os seres humanos estão em evolução. Mas saiba que se chegamos onde chegamos degradando o planeta e gerando cada dia mais agressividade é porque o modelo essencialmente masculino não é mais possível de ser tolerado.
Ocultamos o nosso lado feminino apenas porque nos foi imposto. Anulamos as mulheres porque queremos manter nossa posição e por fim ignoramos estes saberes puramente humanos que nelas são inatos, cavando um enorme buraco entre homens e mulheres apenas porque temos medo.
Medo de perder nossa posição de poder, medo de reconhecermos que sozinhos somos fracos e usamos a força para manter o que conquistamos, o medo por demonstrar mais sensibilidade foi taxado pelos próprios homens como um enfraquecimento da masculinidade.
Que pena que ainda precisamos da força para demonstrar o que sentimos. A sabedoria nasce justamente de poder ser como somos, bebendo do mundo masculino e feminino.
Os valores femininos precisam urgentemente ser aprendidos por nós homens, vejo meus dois filhos muito mais sensíveis a esta percepção do que eu mesmo hoje tento compreender. Fico feliz por isso, afinal, tem sido a educação que eu e a mãe deles ensinamos que tem feito a esta construção.
Um artigo que escrevi sobre este tema já fez muito barulho no mundo, mas sempre vale a pena aprofundar este tema sobre o universo feminino.
Também escrevi um livro sobre as reflexões que a pandemia impôs à humanidade. Nele, reflito com a Renata Marinho o que podemos aprender em relação a tudo que estamos vivendo, clique aqui para acessá-lo.
NA QUEDA DA LIDERANÇA TRADICIONAL NASCE UMA NOVA HUMANIDADE
O modelo de liderança tradicional baseado na força e no masculino levou a humanidade ao caos. Também, não será uma liderança baseada apenas no feminino que poderá criar as novas soluções e saídas que precisamos, mas sim um modelo baseado na harmonia dos dois.
Desbloqueie a fonte da verdadeira liderança. Muitas pessoas, tanto homens como mulheres, compraram uma noção de liderança que enfatiza exclusivamente qualidades “masculinas”, hierárquicas e militaristas.
O resultado dessa mentalidade pode ser corrupção, degradação ambiental, quebra social, estresse, depressão e uma série de outros sérios problemas. Um outro modo possível, mais equilibrado, um estilo de liderança que é gerador, cooperativo, criativo, inclusivo e empático. Embora essas qualidades sejam comumente vistas como “femininas”, todos nós as temos.
Na tradição indiana, elas são simbolizadas por Shakti, a fonte que alimenta toda a vida. Por meio de exercícios e exemplos inspiradores é possível acessar essa energia infinita e liderar com todo o seu ser.
Os líderes que entendem e praticam a liderança Shakti atuam a partir de uma consciência de cuidar da vida, da criatividade e da sustentabilidade para alcançar o autoconhecimento e estar a serviço do mundo.
Para aprofundar o tema da liderança Shakti, deixo aqui a referência do livro Liderança Shakti das autoras, Nilima Bhat e Raj Sisodia, mas também um dos meus artigos em que aprofunda a queda da liderança tradicional.
A resposta para o novo modelo de liderança não nasce de negar a força e coragem do masculino, mas sim de canalizá-la em conjunto com os valores femininos. Desta forma, muito mais do que liderar nossas vidas construiremos um novo mundo.
Acolher, ouvir e transformar. A liderança que a humanidade precisa deverá surgir do caos, mas de dentro da nossa mais pura essência. Compreendendo a harmonia das duas dimensões do masculino e feminino podemos enfim, ver uma nova forma de compreender a vida, nosso maior bem.
SOBRE O AUTOR
Formado em eletrônica, graduado em Teologia pela PUC-SP, com MBA pela FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios, pós-graduado em Vendas pelo Instituto Venda Mais, Mestrando pela Universidade Metodista de São Paulo na área de Educação e pós-graduado em Psicanálise pelo Instituto Kadmon de Psicanálise. Atualmente está em processo de conclusão do curso de bacharelado em Filosofia pela universidade Salesiana Dom Bosco.
Atua no mercado de tecnologia desde 1998. Fundador do Grupo Ravel de Tecnologia, Cofundador da Palestras & Conteúdo, sócio da Core Angels (Fundo de Investimento Internacional para Startups), sócio-fundador da Agência Incandescente, sócio-fundador do Conexão Europa e da Atlantic Hub (Empresa de Internacionalização de Negócios em Portugal).
Atua também como Mentor e Investidor Anjo de inúmeras Startups (onde possui cerca de 30 Startups em seu Portfólio). Além de participar de programas de aceleração, como SEBRAE Capital Empreendedor, SEBRAE Like a Boss, Inovativa (Governo Federal) entre outros.
Palestrando desde 2016 sobre temas, como: Cultura de Inovação, Cultura de Startups, Liderança, Empreendedorismo, Vendas, Espiritualidade e Essência. Já esteve presente em mais de 230 eventos (número atualizado em dezembro de 2020). É conselheiro do ITESCS (Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul), bem como em outras empresas e associações. Lançou em dezembro de 2019 o seu primeiro livro “Vidas Ressignificadas” e em dezembro de 2020 “Do Caos ao Recomeço”.